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Recife, Boa Viagem PE, Brazil
Sou psicóloga,me dedico inteiramente a este meu trabalho. Pós graduanda em Saúde Mental com enfoque em álcool e outras drogas. Abordagem Terapia Cognitiva Comportamental. Atendo em Aldeia,Ilha do Leite, Boa Viagem e Gravatá. (81)9963-3553

terça-feira, 25 de outubro de 2011

Dependência química rompe com os vínculos familiares

O principal motivo verificado nos atendimentos é o rompimento de vínculos familiares, ocasionados em grande parte pela dependência química como o álcool e outras drogas

Nos atendimentos, segundo a psicóloga, verifica-se que os jovens são mais vulneráveis ao uso de drogas como o crack, enquanto entre as pessoas mais velhas é mais comum o uso de álcool. Deste modo, pode-se supor que a possibilidade de jovens romperem com a família e acabarem em situação de rua é maior, observa ela.

Para a assistente social da Casa, Eunice Marçal Fer, o perfil do morador de rua de fato mudou. "Está cada vez mais jovem", observa. Ela fala da dificuldade dessas pessoa no tratamento contra a dependência. Alguns têm várias internações, afirma. "A família quer a pessoa restaurada", destaca. Se a convivência no lar está difícil, pelas ruas sabem onde conseguir o que precisam: se têm fome procuram entidades de apoio ou pedem, revela a assistente social. Eunice conta que a maior parte diz que quer mudar, mas nas ruas perdem a noção de compromissos, horários, esquecem de datas etc.

As tentativas para encaminhá-los a tratamentos e reinserção na família prosseguem, caso manifestem vontade, afirma. "Depende da vontade deles." A psicóloga da Casa conta que as chances de reestabelecimento de vínculos familiares e comunitários, bem como de reinserção no mercado de trabalho existem. "Mas de que forma isso poderá acontecer depende de cada caso", finaliza. (T.S.)

Fonte: Cruzeiro do Sul

domingo, 16 de outubro de 2011

Para 83% dos que fumam, câncer é lenda

Ao receber o diagnóstico de câncer de pulmão, pacientes costumam associar a doença ao tabagismo

Mas, apesar de a grande maioria ser fumante ou ex-fumante quando recebe a notícia, muitos (83%) afirmam nunca ter se imaginado com o problema. O tipo de tumor que mais mata no Brasil é também o que pode ser evitado mais facilmente.

De acordo com o Instituto Nacional de Câncer (Inca), 90% dos casos estão relacionados ao fumo. "Surpreendentemente, e apesar de saber que a doença é relacionada ao tabagismo, uma parcela não para de fumar quando descobre o câncer no pulmão", observa o oncologista Gilberto de Castro, do Instituto do Câncer do Estado de São Paulo (Icesp). Quem larga o cigarro nessa fase, diz ele, tem melhor resposta ao tratamento em comparação aos que continuam fumando.

Pesquisa recente feita pelo Instituto Ipsos sob encomenda da empresa farmacêutica Pfizer traçou o perfil dos pacientes de câncer de pulmão e o impacto trazido pela doença - que provocou 20.622 mortes em 2008, segundo o mais recente levantamento do Inca.

O resultado das 201 entrevistas feitas em seis regiões do País para a pesquisa Câncer de Pulmão: a Visão dos Pacientes mostrou que, além de impor uma rotina rígida de tratamento, a doença causa mudanças no relacionamento com família e amigos, aumenta a religiosidade e muda completamente os hábitos do doente.

Se, antes do diagnóstico, 75% apontavam a família como o principal grupo de sociabilidade, depois dele essa parcela passa a ser de 81%. Apenas 45% dos pacientes alegam poder contar com os amigos durante o tratamento. Enquanto isso, o apoio irrestrito da família é mencionado por 96%.

Para o oncologista Artur Katz, do Hospital Sírio-Libanês, que coordenou a pesquisa, a mudança é observada com frequência. "O paciente passa a ter vários tipos de compromissos relacionados à doença, como exames e quimioterapia, e os amigos não conseguem acompanhá-lo", diz.

Em parte dos casos, o abalo emocional de receber o diagnóstico leva o paciente a "procurar apoio em todos os níveis", segundo explica o médico Jefferson Luiz Gross, do Hospital A.C.Camargo. "Quem não tinha religião, acaba se agarrando a algum apoio espiritual", comenta.

Segundo a pesquisa, antes de saber da doença, 79% dos pacientes afirmavam ter religião, parcela que pulou para 88% após o diagnóstico. Também foi constatado um aumento na frequência a cultos religiosos. O aposentado Alberto Alvarez, de 77 anos, encontrou na espiritualidade forças para os momentos difíceis ao saber que tinha câncer de pulmão, há 10 anos. "Quando a gente se vê numa situação assim, corre pra todos os lados", diz o católico com simpatia pelo espiritismo, hoje livre da doença.

‘Na minha cabeça, fumar era errado’

Em 1951, quando Alberto Alvarez tinha 17 anos, o cigarro era associado apenas ao glamour e à liberdade. "Naquele tempo, a gente ia ao cinema, assistia àqueles filmes e queria imitar os artistas", conta o aposentado. Na época, a população ainda não sabia que o hábito de fumar estava relacionado a vários tipos de câncer e a doenças cardiovasculares e respiratórias. Também não existiam ambientes livres de tabaco nem imagens desconcertantes na embalagem do cigarro.

Depois de 48 anos, Alvarez reconheceu que era hora de parar. Escolheu uma data emblemática - 9/9/1999 - e fez questão de não avisar a família, para o caso de a empreitada falhar. "Eu tinha na cabeça que fumar era errado. Quando encontrava com um amigo que tinha parado, procurava saber como ele fez."

Às vésperas do século 21, o modo como as pessoas encaravam o fumo também havia mudado. Alvarez conta que ficava triste quando, na fila do banco ou na rua, alguém olhava feio no momento em que ele acendia um cigarro.

Um ano e meio depois de ter abandonado definitivamente o vício, veio o diagnóstico em um check up de rotina: câncer de pulmão. Segundo especialistas, os ex-fumantes só se igualam aos que nunca fumaram no risco de desenvolver câncer 15 anos depois do abandono do cigarro.

Alvarez passou por uma operação complexa e teve de ficar internado durante cinco meses. Em vários momentos, a família foi avisada de que não havia muito mais a ser feito. Hoje, aos 77 anos, ele se considera feliz por estar curado.

Para seu médico, Jefferson Luiz Gross, do Hospital A.C.Camargo, a força de vontade e a cooperação foram essenciais. "A condição emocional é fundamental na evolução do tratamento. Se o paciente se deprime e desiste, ele tende a não resistir." Alvarez conta que não chegou a ficar triste quando recebeu a notícia da doença. "Foi a forma como o médico falou. Ele soube demonstrar o que estava acontecendo, relata, afirmando ter conseguido passar por tudo com tranquilidade porque confiava na equipe que o atendia.

Efeito do cigarro só aparece a longo prazo, diz médico

As ações antitabagistas - que ajudaram a reduzir em quase 50% a parcela de fumantes nas últimas duas décadas no Brasil - devem provocar nos próximos 10 anos um impacto no número de diagnósticos de câncer de pulmão. A previsão é do pneumologista Ricardo Meirelles, da Divisão de Controle do Tabagismo do Instituto Nacional de Câncer (Inca). "Acreditamos que esse impacto deva acontecer em um prazo mais longo porque o câncer de pulmão é uma doença lenta. Quem começa a fumar agora, vai ter mais riscos em 25 ou 30 anos."

Para Meirelles, as próximas estatísticas devem mostrar estabilização e queda do número de casos. Mas isso ocorrerá primeiro entre os homens. "Notamos que em alguns países a curva ascendente de câncer de pulmão entre os homens está estabilizando e a das mulheres crescendo. Elas começaram a fumar mais tarde." A estimativa de novos casos de câncer de pulmão para este ano no País é de 17, 8 mil entre os homens e 9.830 entre as mulheres.


Fonte: O Estado de S. Paulo

terça-feira, 11 de outubro de 2011

Mistura de crack com outras drogas aumenta 504% em Ribeirão Preto

Depois de passar 20 anos viciado em "rebite" (metanfetamina), o ex-caminhoneiro Sebastião (nome fictício), 53, conheceu o crack por meio de um companheiro de bar.

Passou a beber ainda mais. Hoje faz terapia para se livrar da dependência do crack e também do álcool.

Casos como o de Sebastião mostram que o número de usuários de crack que também utilizam álcool e outras drogas atendidos no Caps-AD de Ribeirão Preto cresceu cinco vezes mais desde que o centro foi criado, em 1996.

Naquele ano, 27 pessoas que misturavam o crack com álcool ou outros entorpecentes buscaram o centro. Em 2010, foram 163 usuários de vícios combinados.

O fenômeno não é local. O uso de crack com álcool ou outras drogas começou a crescer há oito anos na capital e no Rio de Janeiro.

E a combinação pode tornar o efeito ainda mais devastador do que o crack sozinho, de acordo com a docente da Unifesp Solange Aparecida Nappo (leia texto abaixo).

EFEITOS DEVASTADORES

A mistura de drogas já é um problema, mas a combinação entre crack e álcool é uma das mais graves, segundo Solange Aparecida Nappo, docente da Unifesp e pesquisadora do Cebrid (Centro Brasileiro de Informações sobre Drogas Psicotrópicas).

"No fim das contas, o usuário associa duas dependências graves, que são muito mais violentas e danosas do que só o crack."

A busca por outras drogas é um refúgio do usuário. De acordo com a especialista, o viciado logo percebe como o crack o deixa exposto ao risco.

Dizemos que o usuário de crack não morre de overdose, mas de tiro. Quer dizer, fica exposto à violência."

Segundo a coordenadora do Caps-AD de Ribeirão, Gisela Oliveira Marchini, a ordem das substâncias nem sempre é a mesma. É comum usuários de outras drogas, como o álcool, conhecerem depois o crack.

"Como o efeito do crack é rápido, quando associado com outra droga, ele se prolonga mais", diz a terapeuta ocupacional do Caps-AD Gisela Amorim Marques.

O ex-caminhoneiro Sebastião passa hoje a maior parte do seu tempo no Caps-AD. De segunda a sexta, das 9h às 16h, vê filmes e participa de oficinas. "Ocupa a cabeça da gente", afirma.

O vício no crack começou aos 42, associado ao álcool. Somente decidiu buscar auxílio em janeiro de 2009, quando acordou amarrado a uma maca do HC, após ser encontrado desmaiado perto de uma boca de fumo.

Ele diz ainda sofrer recaídas, mas que está há quatro meses sem usar drogas. "Estou mais controlado hoje. Se eu continuar na droga, é cemitério mais cedo."
Fonte: Folha de São Paulo

Maconha aumenta risco de depressão, diz pesquisa

Probabilidade de desenvolver a doença é agravada com o consumo da droga por jovens vulneráveis a quadros depressivos
Quem fuma maconha corre o risco de desenvolver distúrbios graves, como esquizofrenia e psicose. Uma nova pesquisa feita na Holanda adiciona mais um problema causado pela droga. De acordo com um estudo feito no Instituto de Ciência Comportamental da Universidade Radboud de Nijmegen, na Holanda, a droga aumenta o risco de desenvolver sintomas depressivos em jovens geneticamente vulneráveis. A pesquisa foi publicada na versão online do Addiction Biology, periódico científico da Sociedade Britânica para o Estudo da Dependência.
CONHEÇA A PESQUISA
Título original: Testing bidirectional effects between cannabis use and depressive symptoms: moderation by the serotonin transporter gene
Onde foi divulgada: revista Addiction Biology Online
Quem fez: Roy Otten
Instituição: Instituto de Ciência Comportamental da Universidade Radboud de Nijmegen, na Holanda
Dados de amostragem: 310 adolescentes, por 4 anos
Resultado: O estudo mostrou que o consumo de maconha aumentou os sintomas depressivos nos adolescentes geneticamente vulneráveis.
A maioria da população é vulnerável. Segundo o estudo, duas em cada três pessoas apresentam uma variação no gene transportador de serotonina, um neurotransmissor também conhecido como 5-HT. Tal variante pode ser responsável por tornar uma pessoa mais sensível a desenvolver depressão.
A pesquisa recolheu, durante quatro anos, informações de 310 adolescentes. A cada ano, os jovens responderam questões sobre assuntos como comportamento e sintomas de depressão. A variação do gene da serotonina foi determinante para os resultados: o consumo de maconha aumentou os sintomas depressivos nos adolescentes que apresentavam tal variante.
"Esse efeito da droga é forte, mesmo se levarmos em conta uma série de outras variantes que causam a depressão, como uso de álcool, personalidade e situação socioeconômica. Algumas pessoas podem pensar que jovens com disposição a depressão comecem a consumir maconha como uma forma de automedicação e que a presença de sintomas depressivos seja o fator que leve ao consumo da droga. Entretanto, nesse estudo a longo prazo, mostramos que não é o caso”, diz Roy Otten, principal autor da pesquisa.
Em estudo feito pelo IBGE em 2009, 8,7% dos estudantes entre 13 e 15 anos disseram já haver experimentado alguma droga ilícita. Na Holanda, onde foi feita essa pesquisa, o uso de maconha entre jovens é expressivo: 12% dos adolescentes de 16 anos disseram ter usado maconha ao longo do mês anterior. Além de um pior desempenho escolar, o uso da droga pode aumentar o risco de desenvolver esquizofrenia e psicose.
Para os pesquisadores, conhecer os efeitos negativos do consumo de maconha é importante, pois, para um grande número de pessoas, entre outros prejuízos, seu uso pode aumentar o risco de depressão a longo prazo.
Fonte: Veja

segunda-feira, 10 de outubro de 2011

Álcool é mais nocivo que LSD e maconha, diz estudo

A cocaína ficou em segundo lugar no ranking de drogas perigosas
O álcool é mais perigoso do que drogas como maconha, LSD e ecstasy, de acordo com um estudo publicado na última edição da revista médica especializada The Lancet.
Médicos da Universidade de Bristol e do Conselho de Pesquisa Médica da Grã-Gretanha desenvolveram um novo sistema de classificação que, segundo eles, reflete melhor os riscos representados por cada droga.
O método usado atualmente na Grã-Bretanha "não funciona" e deveria ser mudado, de acordo com os especialistas.
A equipe avaliou o risco de 20 drogas em nove categorias, que foram então combinadas para produzir uma avaliação geral de risco.
Para melhor comparar os riscos, foram incluídas cinco drogas legais, entre elas, o tabaco e o álcool.
  
As mais perigosas
1. Heroína
2. Cocaína
3. Barbitúricos
4. Metadona 'de rua'
5. Álcool
6. Quetamina
7. Benzodiazepinas (calmantes)
8. Anfetaminas
9. Tabaco
10. Buprenorfina (derivado do ópio)
O álcool ficou em quinto lugar no novo ranking. A droga mais perigosa, segundo os especialistas, é a heroína, seguida da cocaína e de barbitúricos.
Erva
O ecstasy ficou em 18º lugar, enquanto a maconha foi considerada a 11ª droga mais perigosa – atrás do tabaco, que ficou em nono.
Os pesquisadores dizem que o atual sistema, que separa as drogas em três classes – A, B e C –, é muito arbitrário e não dá informações específicas ou os riscos relativos de cada droga.
O novo ranking deve ser recomendado pelos especialisas ao governo britânico no segundo semestre.
Uma comissão também deve realizar uma ampla revisão da política sobre drogas do governo nos próximos três anos.
A principal diferença no novo ranking é que ele avalia o risco que que as drogas representam para o indivíduo, para a sociedade e se provocam dependência.
Para os cientistas, o fato de 500 mil pessoas na Grã-Bretanha tomarem ecstasy todo o fim de semana prova a necessidade de uma reforma na legislação sobre drogas no país.
"O sistema atual não funciona. Vamos tratas as pessoas como adultos. Temos que ter um debate muito mais pensado sobre como lidar com drogas perigosas", afirmou o professor David Nutt, da Universidade de Bristol.
O especialista ressaltou ainda que pelo menos uma pessoa por semana morre na Grã-Bretanha por consumo excessivo de álcool, enquanto menos de dez mortes por ano são registradas por consumo de ecstasy.
Fonte:BBC Brasil

Rigidez pode frear dano do alcoolismo

Um plano para combater o álcool de frente, sem desvios. Esse foi o resultado da pesquisa Políticas Públicas para o Álcool, realizada pelo psiquiatra Ronaldo Laranjeira. Um dos maiores estudiosos sobre dependência química, ele identificou, com auxílio do pesquisador Marcos Romano, quais são as medidas que precisam ser adotadas pelo poder público e sociedade para frear as terríveis consequências do alcoolismo.
Entre os pontos previstos, está a obrigatoriedade de licença para comercializar bebidas alcoólicas, controle de dias e horários para a venda, maior fiscalização e punições severas para quem não respeitar as leis e o aumento do preço dos produtos.

Essas formas de prevenção, aliadas com políticas de redução de problemas específicos, como beber e dirigir e beber abaixo da idade mínima, podem criar um clima para a redução no número de dependente alcoólico e de pessoas atingidas indiretamente.
Os inúmeros dependentes ouvidos pelo Diário informam que a facilidade e o preço baixo são dois dos principais motivos para abusar. "Não tem jeito, para beber não precisa fazer muito. Em qualquer lugar a gente toma uma cachaça por R$ 1", disse André, 27 anos, que passou 17 anos usando diversas drogas em conjunto com o álcool.
Segundo Laranjeira, aumentar o preço é uma das políticas de redução que poderá trazer bons resultados, como na Austrália, Bélgica, Canadá, Alemanha, Itália, Reino Unido e Estados Unidos. Entre as conclusões, está a lei de mercado, se o preço do produto aumenta, o consumo cai.
As experiências relatadas pelos pesquisadores têm como base estudos produzidos por outras nações e conhecimentos próprios. A tese até prevê um embate com a indústria de bebidas e dos proprietários de bares e restaurantes, que provavelmente irão se opor às restrições.
DANOS
Os números apresentados mostram que 15% da população masculina adulta bebe de forma abusiva, metade dos acidentes automobilísticos é devida ao abuso de álcool. Na área criminal, mais da metade dos homicídios está relacionado ao problema. Na esfera médica, 20% das internações em clínica geral e 50% das internações masculinas psiquiátricas são motivadas pelo consumo de bebidas alcoólicas.
"A sociedade brasileira está pagando um alto preço pela falta de proteção com relação ao álcool", descreve o psiquiatra Ronaldo Laranjeira.
Outro fato de destaque na pesquisa é o papel que pode ser exercido com a mídia. Atualmente, a publicidade, mesmo com as normas impostas pelos governos, ainda utilizam personalidades para promover o consumo. A proposta de Laranjeira é que a campanhas publicitárias e educativas sejam feitas, mas que essas atitudes não são satisfatórias, e é necessário criar um clima de divulgação na sustentação das políticas públicas relacionadas ao álcool junto à imprensa, chamado de marketing social e Media Advocacy (apoio da mídia).

Combate ao álcool ajudaria a diminuir acidentes e violência
Um dos principais objetivos do estudo é implementar programa que permita redução nos números de assaltos, homicídios, suicídios, violência doméstica, agressões físicas, acidentes automobilísticos, internações e idas nas emergências hospitalares devidos às doenças causadas pelo álcool.
Na outra ponta, está a tentativa de criar controle para minimizar problemas em populações especificas, como adolescentes e idosos. Uma das ações é encontrar forma de reduzir a chance dos jovens conseguirem comprar bebidas alcoólicas. O Diário revelou que os adolescentes não encontram qualquer tipo de dificuldade para adquirir bebidas em postos de combustíveis e em redes de supermercados.
Em outra pesquisa, Laranjeira informa que a bebida alcoólica é a droga mais consumida pelos adolescentes brasileiros.
Fonte:  Diário do Grande ABC

sábado, 8 de outubro de 2011

2014, a Copa do governo bêbado

Dilma foi à Fifa e acabou com as dúvidas sobre a Copa do Mundo: chova ou faça sol, está garantida ao Brasil uma boa ressaca em 2014.
Essa perspectiva segura foi muito bem recebida pelos brasileiros, um povo cordial que jamais renuncia à alegria e ao oba-oba, mesmo quando está sendo assaltado.
A preparação do país para a Copa vai muito bem, obrigado. As obras faraônicas para os estádios seguem as regras mais estritas das negociatas, devidamente avalizadas pelo dinheiro do contribuinte.
A grande novidade é que o torcedor brazuca, ao entrar no Maracanã ou no Itaquerão, vai poder encher a cara – e esquecer os quase 2 bilhões de reais que esses novos templos da esperteza lhes custaram.
Foi mesmo providencial o anúncio do ministro dos Esportes, Orlando Silva, sobre a revogação da Lei Seca nos estádios brasileiros durante a Copa. Ninguém suportaria assistir careta a tanto gol contra.
Tome mais uma dose e alcance a lógica do ministro:
A proibição de bebidas alcoólicas nos estádios de futebol, determinada pelo Estatuto do Torcedor contra a epidemia de violência nas arquibancadas e nas ruas, pode ser suspensa porque “a Copa é especial”.
Orlando Silva explicou que essa regra de civilidade e segurança, há anos em vigor no Brasil, pode ser revista por causa dos “compromissos da FIFA com os patrocinadores”.
O ministro tem razão. O direito brasileiro termina onde começa o faturamento da Fifa.
Esse papo de soberania nacional soa bem em época de eleição – mas em época de Copa do Mundo não tem nada a ver. A Copa é especial.
Os que acham absurdo sujeitar as leis do país a uma marca de cerveja estão reclamando de barriga cheia. Se o patrocinador da Fifa fosse a Taurus, o ministro Orlando Silva também examinaria “com cuidado e naturalidade” a entrada de torcedores armados nos estádios.
E que não venham os estudantes protestar contra o roubo de seu direito à meia entrada na Copa. O governo brasileiro pode ser frouxo, mas felizmente também é incompetente: na falta de um sistema de transportes decente, decretará feriado nos dias dos jogos.
Os estudantes não têm do que reclamar.
Dilma e Orlando Silva poderiam estar matando, poderiam estar roubando, mas estão só rasgando as leis. Viva o governo ébrio.
 

Fonte: Época 


sexta-feira, 7 de outubro de 2011

Consumo de crack no Brasil não é epidemia, diz ministro da saúde

O ministro da Saúde, Alexandre Padilha, afirmou que o consumo de crack no Brasil não é uma epidemia. Padilha participou de reunião entre membros do CNS (Conselho Nacional de Saúde), nesta quarta-feira, em Brasília.
Não houve consenso entre os conselheiros do CNS quanto aos requisitos técnicos que envolvem a questão.
De acordo com o coordenador de doenças mentais do ministério da Saúde, Roberto Tykanori, não há uma série histórica para que o aumento do uso de crack seja considerado epidêmico.
Segundo os membros presentes na reunião, há dados que apontam para a existência de um surto.
"Não acho que haja uma epidemia de crack. O grande vilão é o álcool. Ainda assim, nós da saúde não podemos esperar que a questão se torne uma epidemia para agirmos. É uma nova realidade e um desafio ao campo da saúde pública", disse Padilha.
As discussões sobre a Política Nacional de Combate ao Álcool e outras Drogas abriram a 226ª Reunião Ordinária do CNS, ensejada por declaração feita pela presidente Dilma Roussef, no 7 de setembro, a respeito da aprovação da política em breve.
Técnicos do setor da saúde mental declararam sentir-se excluídos do debate e disseram que o plano não pode ser publicado sem que haja ampla participação de diversos setores da sociedade.
Ao final do debate de abertura da reunião do CNS, será aprovada resolução sobre cinco principais pontos: a Política Nacional de Combate ao Álcool e outras Drogas, a Política de Saúde Mental, a questão do recolhimento compulsório, o debate sobre experiências com comunidades terapêuticas e a necessidade de debate entre comissões e conselhos específicos.
RECOLHIMENTO COMPULSÓRIO
Maria Ermínia Ciliberti, do CFP (Conselho Federal de Psicologia), condenou o recolhimento compulsório de usuários de crack --como acontece no Rio de Janeiro, por iniciativa da SMAS (Secretaria Municipal de Assistência Social do Rio de Janeiro).
A declaração de Ciliberti foi consensual entre os membros do CNS, que ainda mencionaram a recusa da ideia de "higienização" das ruas.
"Não se pode ir catando crianças nas ruas do Rio à 'baciada' e não tratá-las como se não fossem únicas. Não é verdade que a única solução é a internação. Senão não haveria pessoas com 40, 50 internações", declarou Ciliberti.
O Ministério da Saúde afirmou ser contrário ao recolhimento compulsório, por meio de diferenciação entre o "recolhimento" e as "internações" --nas quais não há reservas do órgão.
"Existe uma confusão entre esses nomes. O recolhimento compulsório não está na esfera da saúde. O Estado atua, mediante decisão prévia, sobre a restrição de certos grupos. As internações compulsórias [que são subordinadas a laudos médicos] são feitas de acordo com a lei, que prevê tal atuação. O ministério não tem a ver com o recolhimento e é contra a prática", declarou Roberto Tykanori.
Apesar da condenação, os usuários de drogas retidos por meio de recolhimento compulsório poderão ser atendidos por instituições do SUS (Sistema Único de Saúde), caso passem por procedimento médico posterior.
COMUNIDADES TERAPÊUTICAS
O Ministério da Saúde informou estar sendo elaborada uma portaria para a regulamentação de comunidades terapêuticas --centros de tratamento criticados por especialistas, que as consideram uma volta dos antigos "manicômios", extintos pela implementação da Reforma Psiquiátrica Antimanicomial (Lei nº 10.216/2001).
O conselho de psicologia apresentou na reunião o documento "13 razões para defender uma política para usuários de crack, álcool e outras drogas sem exclusão" e citou o caso da morte Damião Ximenes Lopes, em 1999, em uma "casa de repouso", no Ceará.
Em 2006, o Brasil foi condenado pelo caso na Corte Interamericana de Direitos Humanos da OEA (Organização dos Estados Americanos) por violar o direito à vida, a integridade física, as garantias judiciais e a proteção judicial.
Tykanori, coordenador de doenças mentais do ministério, afirmou que o Estado precisa institucionalizar tais comunidades e que não haverá retrocesso em relação aos marcos legais já consolidados.
"É um setor que está desregulado e é um campo em que há interesse da saúde e cuja atuação pode ser incluída na saúde. É uma situação de limbo institucional. Existem bons exemplos, assim como exemplos abomináveis", disse.
Ele declarou que para estarem de acordo com a política do ministério, as comunidades deverão cumprir políticas e pré-requisitos do SUS.
O ministério não tem dados sobre quantas comunidades poderiam ou teriam o interesse em ser financiadas pelo sistema.
Fonte: Folha.com

quarta-feira, 5 de outubro de 2011

Debate aponta falhas no atendimento a dependentes químicos

Debatedores apontaram nesta terça-feira, em audiência da Comissão Especial de Políticas Públicas de Combate às Drogas, falhas no tratamento oferecido pelas operadoras de planos de saúde aos dependentes

Os contratos assinados após 1998 devem garantir aos usuários tratamento contra todas as doenças previstas na classificação internacional, inclusive contra a dependência química. Desde 2008, o tratamento deixou de ser apenas médico e passou a incluir outros profissionais, como psicólogos e nutricionistas.

Porém, o deputado Aureo (PRTB-RJ), autor do requerimento de realização da audiência, afirmou que, apesar dessa garantia legal, não vem sendo oferecido o tratamento adequado. “O plano de saúde só atende na emergência, quando o dependente químico está com hemorragia”, afirmou. Segundo ele, a luta é para que o cidadão possa se internar numa clínica e ter o tratamento custeado pelo plano.

O procurador da República Fabiano Moraes, coordenador de um grupo de trabalho sobre o tema, afirmou que os planos de saúde oferecem uma rede muito pequena de atendimento e agem como se não fosse deles a responsabilidade por esse tipo de tratamento, o que considera equivocado.

Queixas

De acordo com Martha de Oliveira, representante da Agência Nacional de Saúde Suplementar, que fiscaliza as empresas do setor, o órgão recebe poucas reclamações a respeito desse problema. Até agosto deste ano, das quase 20 mil queixas registradas apenas 60 tratavam da área de saúde mental, que inlcui a dependência química.

Martha de Oliveira concordou que a rede de atendimento oferecida pelos planos de saúde ainda é pequena. Uma das razões é a falta, no mercado, de clínicas e profissionais interessados em atuar na área de saúde mental. Sem a oferta de serviço, as operadoras teriam dificuldade para contratar. Mesmo assim, Martha de Oliveira disse que a maior parte dos planos tem uma rede credenciada. “Caso não haja, é um erro que deve ser denunciado, e a operadora tem de reembolsar o paciente", informou.


Fonte: Agência Câmara

domingo, 25 de setembro de 2011

Mortalidade do alcoolismo no Brasil é quase tão grande quanto a do crack

O índice de mortalidade entre dependentes de álcool no Brasil está próximo do registrado entre usuários de crack. Pesquisa inédita feita pela Universidade Federal de São Paulo (Unifesp) mostra que, em cinco anos, 17% dos pacientes atendidos em uma unidade de tratamento da zona sul de São Paulo morreram.
"É um número altíssimo. Na Inglaterra, o índice não ultrapassa 0,5% ao ano", diz o psiquiatra Ronaldo Laranjeira, coordenador do estudo.
O trabalho, que será publicado na próxima edição da Revista Brasileira de Psiquiatria, segue uma linha de pesquisa de Laranjeira sobre morte entre dependentes de drogas. O estudo feito entre usuários de crack demonstrou que 30% morreram num período de 12 anos. "Naquela mostra, a maior parte dos pacientes morreu nos primeiros cinco anos. Podemos dizer que os índices estão bastante próximos."
O estudo sobre dependência de álcool procurou, depois de cinco anos, 232 pessoas que haviam sido atendidas num centro do Jardim Ângela, zona sul, em 2002. Desse grupo, 41 haviam morrido - 34% por causas violentas, como acidentes de carro ou homicídios. Outros 66% foram vítimas de doenças relacionadas ao alcoolismo. "Os resultados estampam a falta de uma rede de assistência para esses pacientes. Todas as fases do atendimento são deficientes: desde o serviço de urgência, para o dependente em crise, até a rede de assistência psicossocial", diz Laranjeira.
Violência. Os altos índices de mortalidade são explicados por Laranjeira. Entre dependentes de álcool, principalmente nos casos mais graves, pacientes perdem o vínculo com a família, com o trabalho e adotam atitudes que os expõem a riscos, como sexo sem preservativo ou brigas.
A velocidade desse processo é maior entre pessoas de classes menos privilegiadas, avalia Laranjeira. "Como em qualquer outra doença, pessoas que têm acesso a um serviço de melhor qualidade têm mais chances de controlar o problema. Daí a necessidade de equipar melhor a rede pública", comparou.
O grupo avaliado na pesquisa da Unifesp ilustra esse processo. A totalidade dos pacientes atendidos era de classe E e D - 52,2% estavam desempregados. A idade média dos entrevistados era de 42 anos. "Debilitados e sem dinheiro, esse grupo dificilmente consegue se inserir novamente na sociedade", completou.
A ligação com a violência também está clara. O trabalho mostra que entre sujeitos que consumiram álcool, o risco de estar envolvido com crime era 4,1 vezes maior que entre os abstêmios.
Laranjeira lembra que o Jardim Ângela é bairro de periferia. "Mas os baixos indicadores dos pacientes analisados na pesquisa estão longe de refletir a população do bairro. Ali há economia, pessoas estão empregadas."
Religião. Além da alta mortalidade, a pesquisa conclui que atividades religiosas exercem um efeito protetor sobre os dependentes. Entre os que pertenciam a algum grupo, incluindo os de autoajuda, os índices de participação em crimes eram menores que entre os demais. Dos entrevistados que faziam parte de algum grupo religioso, 30,6% não tiveram participação em crime. Entre os que não estavam ligados a nenhum grupo religioso, 18% conseguiram se manter afastados de crimes.
"Num cenário de total desassistência, é ali que o grupo conseguiu apoio", diz Laranjeira. Um resultado que, na avaliação do pesquisador, é muito importante de ser considerado. "Numa doença que apresenta um índice de mortalidade de 17%, qualquer fator protetor deve ser estimulado, sem preconceito." Justamente por isso ele não hesitaria em recomendar para os pacientes procurarem grupos de apoio, incluindo os de natureza religiosa.
Fonte: Band FM

quarta-feira, 7 de setembro de 2011

Retrocesso nas arquibancadas

A imprensa tem informado que a Lei Geral da Copa pode permitir a venda de cerveja nos estádios durante o mundial de 2014

A sociedade lutou durante anos para institucionalizar essa regra e, após um longo período de conscientização e adaptação, a população em geral e os frequentadores dos estádios em particular entenderam que é uma medida benéfica. Ao concordar com essa exceção, vamos retroceder décadas em 30 dias. Além disso, vamos abrir um precedente para que a CBF e outras federações nacionais exijam o livre comércio em jogos da sua competência. 

Na prática, a concessão pode sabotar a lei. No Brasil, uma das grandes dificuldades para o funcionamento da legislação é que uma nova regra “pegue”. A proibição de bebidas nos estádios “pegou”, ou seja, após anos de luta superou o principal obstáculo. E é justamente esse ponto que ficará vulnerável se for atendida a exigência da FIFA. Ao verem pela televisão torcedores com suas cervejas na mão, muitos se perguntarão: Por que na Copa pode e no Brasileirão não pode?

Esse questionamento, errado, mas compreensível, pode promover o retrocesso, fazer retornar o álcool aos estádios e com ele todas as conseqüências negativas relacionadas à embriaguez. 

Devemos sempre lembrar que o álcool é um grande problema de saúde pública, principalmente nos estádios. É uma droga que amplifica rivalidades e facilita a expressão da agressividade. Em jogos de futebol isso pode ser explosivo, já que por sua natureza concentra grupos em natural oposição. 

Outra questão relevante é a relação entre cerveja e esporte, principalmente os ídolos do futebol. Isso é, na verdade, muito mais grave do que vender cerveja nos estádios. Se tivesse responsabilidade, a FIFA não permitira que uma cervejaria patrocinasse a Copa. Da mesma maneira a CBF e jogadores famosos não contribuiriam para a divulgação, e consequente estímulo do consumo, de bebidas alcoólicas. Nenhum deles, aliás, enfrentaria dificuldades financeiras se adotasse essa postura.

A propaganda é o principal fator para o consumo precoce, ou seja, entre jovens e adolescentes. E quando esses anúncios são protagonizados pelo técnico ou o artilheiro da seleção o estrago é multiplicado. Seria importante que, antes de participar desses comerciais, nossos ídolos se lembrem dos inúmeros jogadores promissores que tiveram suas carreiras interrompidas por causa do alcoolismo. E das 57 mortes diárias relacionadas ao álcool no país. E assumam sua parcela de responsabilidade nessa tragédia.

O futebol é um espetáculo que não depende do álcool para o seu sucesso. Queremos a Copa no Brasil, mas é preciso estabelecer limites. Não é aceitável negociar a saúde da população para receber o evento.

Carlos Salgado é psiquiatra e presidente da Associação Brasileira de Estudos do Álcool e outras Drogas (ABEAD)


Fonte: Lance

quarta-feira, 31 de agosto de 2011

Crack - solução é acolher e reconstruir vidas

Alexandre Padilha e Roberto Tykanori - O Estado de S.Paulo
No início dos anos 1980, quando os primeiros casos de HIV foram registrados no País, a comunidade médica e as estruturas de saúde desconheciam a forma mais eficaz de tratar os pacientes, cujo número crescia em progressão geométrica. O dedo foi posto na ferida. Assim, apesar de todos os avanços ainda necessários, demos passos para começar a enfrentar essa epidemia mundial.
Hoje é mais do que evidente que o abuso e a dependência de drogas no Brasil - em especial do álcool e do crack - se transformaram numa nova chaga social. As vítimas acumulam-se, com graves repercussões na ocupação do espaço urbano, na exclusão econômica e social, na rede de saúde e na vida das famílias. Dados de pesquisadores da Universidade Federal de São Paulo evidenciaram a complexidade que é tratar esses pacientes. Durante 12 anos acompanharam 107 dependentes do crack. Após esse período, 32,8% estavam abstinentes, 20,6% haviam morrido (a maioria, pela violência), 10% encontravam-se presos, 16,8% continuavam usando crack e cerca de 20% estavam desaparecidos, num destino incerto para quem esbarra em algum momento da vida com essa realidade.
A dependência, inclusive do crack, reúne situações sociais muito diversas: desde recursos para suportar a exclusão até estratégias para se sentir incluído. Nas estatísticas estão crianças na rua que se iniciaram nas drogas para suportar a fome e o frio, os trabalhadores rurais que acreditam que a pedra lhes pode fazer suportar toneladas a mais de cana-de-açúcar, profissionais liberais pressionados pelo desempenho no trabalho e jovens que querem alcançar, cada vez mais rapidamente, a inserção na turma. Para todos é crucial construir novos projetos e redescobrir sentido para a vida.
As raízes do problema são externas ao campo da saúde pública, mas sabemos que a rede de ambulatórios, de hospitais e de profissionais pode interferir no curso da dependência. Estamos convencidos de que uma abordagem bem-sucedida está relacionada a uma reestruturação do Sistema Único de Saúde (SUS) que possibilite aos Estados, aos municípios, à sociedade civil atuar em conjunto com o Ministério da Saúde, de forma articulada, no enfrentamento do crack e de outras drogas. O SUS, pela sua capilaridade e pelo seu compromisso com a defesa da vida, deve estar mais presente junto aos indivíduos, grupos e no ambiente social onde se inicia ou se perpetua a dependência de drogas.
Para uma ação eficaz é preciso distinguir o que precisa ser distinto: por um lado, reprimir e criminalizar, de forma vigorosa, o tráfico de drogas e o contrabando; por outro, acolher de forma humanizada e possibilitar o acesso dos usuários às diversas terapias, salvando vidas e evitando mortes precoces. Uma resposta da área de saúde poderá prevenir sofrimento pessoal, conflitos familiares, violência e acidentes urbanos.
Somente com a estruturação de uma rede de serviços que ofereça abordagens diferentes para diferentes indivíduos é que será possível aumentar as chances dos dependentes de reconquistarem sua vida e de a sociedade ganhar de volta seus cidadãos. Para ter sucesso o tratamento deve considerar e se adequar a necessidades distintas. Qualquer proposta que se paute em apenas uma forma de ação ou um tipo de serviço está fadada ao fracasso. Ou seja, não pode ser só ambulatorial, nem somente clínicas de internação ou apenas espaços de internação prolongada.
Por isso o Ministério da Saúde propôs uma parceria à sociedade com Estados e municípios para uma nova rede de serviços. Num mesmo território serão ofertados unidades básicas/Programas de Saúde da Família, consultórios volantes para abordagem e cuidado das pessoas em situação de rua, enfermarias especializadas em pacientes dependentes de álcool e drogas, unidades de acolhimento para pessoas que necessitem de internação prolongada, parcerias com entidades do terceiro setor e com comunidades terapêuticas. Além disso, vai capacitar os serviços de urgência e emergência como portas de entrada possíveis. E também ampliar para 24 horas o funcionamento dos Centros de Atenção Psicossocial Álcool e Drogas.
O tema é polêmico, mas não nos devemos paralisar diante de dúvidas. Toda iniciativa que se paute pelo respeito aos direitos individuais e pela proteção à vida deve ser defendida, até mesmo com o recurso à internação involuntária, na forma da lei. Mas nem ela - muito menos o uso da força - pode ser o centro da estruturação dos serviços de saúde e da estratégia de saúde. Nesse sentido, saudamos o recente protocolo organizado pelo Conselho Federal de Medicina, que apresenta uma abordagem contemporânea e equilibrada do tema.
A qualificação profissional e o uso de tratamentos bem estruturados são fundamentais, mas uma abordagem multissetorial será decisiva para o sucesso desta empreitada. Nós, profissionais de saúde, precisamos estar cada vez mais preparados para proporcionar os cuidados necessários, porém sabemos que é imprescindível o envolvimento da sociedade e de outras políticas públicas - como educação, qualificação profissional, moradia, esportes e convívio comunitário - para produzir resultados duradouros.
Essa não é uma tarefa nova. Ao longo dos seus 22 anos, o SUS enfrentou vários desafios que também exigiram abordagem multissetorial. E mostrou-se capaz de enfrentá-los quando uniu a capacidade de quem sofre e agregou quem estava disposto a se mobilizar.
Este é o desafio: criar uma grande frente de saúde pública, comprometida com o tratamento, a recuperação e a reinserção dos milhares de crianças, jovens e adultos machucados pelo crack e outras drogas. Estamos prontos para pôr o dedo nessa ferida e começar a cicatrizá-la. Dessa forma estaremos cumprindo nossa missão.

RESPECTIVAMENTE, MINISTRO DA SAÚDE E COORDENADOR DE SAÚDE MENTAL DO MINISTÉRIO DA SAÚDE
Fonte: UNIAD

terça-feira, 30 de agosto de 2011

CCJ aprova projeto que multa motorista que leva bebida dentro do carro

Texto aguarda votação no Senado e prevê pena de 7 pontos na CNH e multa de R$ 191 ao infrator
Denise Madueño - estadão.com.br
BRASÍLIA - A Câmara aprovou nesta quinta-feira, 25, projeto que proíbe o motorista transportar bebida alcoólica na cabine de passageiros do carro. A proposta altera o Código de Trânsito Brasileiro definindo a infração como gravíssima a ser punida com multa de R$ 191,54 e sete pontos na carteira. Pela proposta, bebida alcoólica, empacotada ou aberta, só poderá se transportada no porta-malas ou bagageiro. O projeto, aprovado na Comissão de Constituição e Justiça (CCJ), tem caráter conclusivo, ou seja, não precisa ser votado no plenário da Casa, mas voltará ao Senado porque sofreu modificações na comissão.
O autor do projeto, aprovado em 2002 pelo Senado, Edison Lobão, atual ministro de Minas e Energia, argumentou que o transporte de bebida alcoólica na cabine poderia ser negativo para a segurança no trânsito, na medida em que pode induzir o consumo pelo condutor. Essa mesma medida foi prevista nos debates da proposta que resultou na Lei Seca, mas foi retirada no texto final.
Na votação na CCJ, os deputados retiraram uma das punições previstas no texto: a retenção do veículo. Ficaram mantidas a classificação de infração gravíssima e a multa. "Se a infração constitui-se no tão-só transporte de bebidas alcoólicas na cabina de passageiros, basta tirá-las dali e não restará mais nada de errado com o veículo", argumentou o relator da proposta, deputado Hugo Leal (PSC-RJ).
O deputado explicou que independentemente do teor alcoólico, não será permitido o transporte de bebidas onde houver passageiros, incluindo transporte coletivo. No caso de ônibus, ele explicou, a bebida deve seguir no bagageiro. No entendimento dos parlamentares, a existência de bebida alcoólica disponível na cabine de passageiros predispõe o motorista e os passageiros ao consumo, prejudicando segurança do trânsito.
Além da CCJ, o projeto passou pela Comissão de Transportes da Câmara. "Grande parte dos acidentes de trânsito são causados pela influência de bebida alcoólica. Assim, reduzindo a oportunidade do consumo de álcool por parte dos condutores de veículos automotores, seriam reduzidos também os acidentes dele decorrentes", afirmou o relator na comissão de Transporte, deputado Gonzaga Patriota (PSB-PE).
"Considerando que o quadro de acidentes de trânsito em nosso País ainda é grave, apesar do maior rigor na punição, do aumento na fiscalização e de outros avanços preconizados pelo novo Código de Trânsito Brasileiro, qualquer medida que venha a contribuir, ainda que de maneira indireta, para a redução das ocorrências será sempre bem-vinda", completou Patriota.

Fonte: Uniad

domingo, 28 de agosto de 2011

Pesquisa aponta aumento no consumo de crack entre idosos

Condições de vida e abandono são alguns dos fatores que levam ao uso de drogas

Uma pesquisa da Faculdade de Enfermagem da Universidade de São Paulo (USP) de Ribeirão Preto aponta que 80% dos 191 idosos, entre 60 e 80 anos, que procuravam o Centro de Atenção Psicossocial (CAPS) queriam tratamento contra o alcoolismo. No entanto, a surpresa dos pesquisadores foi saber que os outros 20% eram viciados em droga.

A maioria desses idosos, com mais de 60 anos, não conseguia largar o crack. Segundo eles, o vício começou há cinco anos e, no início, o consumo era de três a quatro pedras por dia. “Uma droga foi puxando a outra. Primeiro foi a maconha e depois a cocaína”, declarou um dos dependentes químicos que não quis se identificar.

De acordo com a pesquisadora Sandra Pillon, existem vários motivos que levam os idosos ao uso de drogas. “As condições de vida da pessoa, o contexto onde vive, o abandono, o sofrimento mental, as questões de aposentadoria e o dinheiro são alguns desses fatores”, afirma.

Para o coordenador de saúde mental Alexandre de Souza Cruz, a constatação dessa pesquisa é preocupante. “O que dificulta é parar o próprio paciente, pois normalmente tem problemas físicos, é mais debilitado, tem pressão alta e diabetes, além de outros problemas que com o uso da droga se agravam”.

Um homem de 60 anos, pai de um adolescente, tenta pela sexta vez largar as drogas. Ele se sente arrependido. “O crack roubou de mim tudo o que eu tinha, a começar pela minha dignidade, minha honra destruiu todo meu caráter, me tornou um marginal", lamentou.


Fonte: EPTV

quarta-feira, 24 de agosto de 2011

Ciência explica por que álcool faz os outros ficarem mais bonitos

Estudo britânico atribuiu a queda na exigência à diminuição, provocada pelo álcool, da percepção de assimetrias faciais

Aquilo que já foi cantado em mais de uma música e constatado por muitos no dia seguinte agora tem explicação científica. De fato, após entornar alguns copos é comum achar que as pessoas ao redor se tornaram ainda mais bonitas. Pesquisadores da Universidade de Roehampton, em Londres, afirmam que é tudo uma questão de percepção da simetria facial. O consumo de bebida alcoólica diminui a capacidade de detectar possíveis desigualdades entre os dois lados do rosto do pretendente, além de reduzir a preferência das pessoas por rostos mais simétricos. Daí, a momentânea queda no padrão de exigência.
 
O professor Lewis Halsey, que coordenou o estudo, explica que a simetria parece estar muito ligada ao poder de atração, pois, em muitos casos na natureza ela é ligada a eficiência. “Um pássaro com uma asa maior que a outra não vai voar tão eficientemente, assim como um animal com uma mandíbula assimétrica não vai comer tão bem”, disse ao iG. O que importa é que quase todos os organismos multicelulares apresentam algum grau de simetria.
 
Saindo um pouco do reino animal e pesquisando o comportamento humano, a equipe de Halsey contou com a ajuda de 64 voluntários (33 homens e 36 mulheres) na faixa dos 22 anos de idade. Cabia aos voluntários provar que o álcool faz todo mundo parecer mais bonito e para isto, foi preciso montar uma sessão de bebedeira. Eles foram divididos em dois grupos e 28 voluntários foram alcoolizados com cinco pints de cerveja ou cinco taças de vinho duas horas antes dos testes. O restante permaneceu sóbrio.
 
Os integrantes dos dois grupos tiveram de olhar para 20 fotos, cada uma com dois rostos e apontar qual era a pessoa mais atraente da dupla. Depois, mais 20 retratos foram apresentados aos voluntários. Só que desta vez eles avaliaram quanto o rosto de cada foto era simétrico.
 
Inebriante beleza
A comparação do resultado entre o grupo embriagado e o de abstêmios mostrou que o álcool alterou o poder de percepção. “Voluntários sóbrios apresentaram 10% a mais preferência pelos rostos mais simétricos que os embriagados”, disse. Os resultados também mostraram que aqueles que não beberam álcool antes dos testes também foram mais aptos na segunda parte do teste, que exigia determinar se os rostos eram simétricos ou não.
 
A pesquisa da universidade britânica mostrou que a beleza pode até ser inebriante, mas o álcool corrobora para que ela seja potencializada. “Os resultados sugerem que a bebida alcoólica pode ser parte da explicação de por que as pessoas tendem a considerar o alvo de conquista mais atraente quando se está bêbado, mas certamente muitos outros mecanismos estão envolvidos nisso também”, disse.
 
A pesquisa obteve um dado inesperado: tanto no grupo embriagado quanto no dos abstêmios, homens cometeram menos erros que as mulheres na segunda parte do teste quando tiveram de determinar se os rostos em fotos individuais eram assimétricos. No entanto, o teste mostrou que homens e mulheres tiveram preferência por rostos simétricos. “Isto pode ser parcialmente explicado pelo fato de que a aparência física é mais determinante na escolha do parceiro para os homens do que para as mulheres”, disse.
 
A equipe vai continuar o estudo, publicando nos próximos meses um artigo científico sobre testes desta vez feitos em laboratório. Após ir a campo, os pesquisadores avaliaram em laboratório os efeitos do álcool sobre a percepção visual. Como o estudo ainda não foi publicado, Halsey prefere manter o suspense sobre os novos resultados.

Portal: IG


quarta-feira, 17 de agosto de 2011

Amy Winehouse – um destino inelutável?

Texto apresentado na pós ontem, muito bom ajuda na desconstrução que as drogas são o problema e não a consequencia

Meu caro,
Vejo com tristeza estas fotos e lamento que uma artista extraordinária tenha morrido tão jovem. Contudo, não concordo com as manchetes e com a sugestão de mostrá-las a filho e netos como exemplo contra as drogas.
Acho que podem ser mostradas como tema para reflexão sobre a vida e o que os humanos podem fazer de bom e de ruim. Se é verdade que as drogas produzem efeitos danosos, podem também salvar, a exemplo dos antibióticos.
Creio que atribuir a morte de Amy Winehouse às drogas, é como atribuir ao automóvel a responsabilidade pela má condução por motoristas. As drogas (legais e ilegais), como os veículos, são objetos passíveis de bons e maus usos.
Somos nós, humanos que somos – capazes de pensar, tomar decisões, fazer escolhas, ter sucesso ou fracassar -, os responsáveis pelo que nos ocorre. Pouco sei da vida desta artista, além do que nos mostrou (e mostra) uma media que se interessa apenas pelo dano, escândalo e sofrimento.
Não sei – porque ninguém disse – como foi para Amy lidar com o sucesso em dimensão mundial; como foi para ela separar os amigos honestos dos interesseiros; como foi ser cortejada pelo que oferecia e não pelo que gostaria ou precisava receber.
Acho que o sucesso mata com várias armas em tempos distintos. Fico pensando na dimensão da solidão de uma pessoa como Ami; e a solidão também mata humanos. Claro que posso dizer também, seguindo esta mesma sequência: as drogas matam. E matam mesmo. Só não posso é dar à cocaína, ao álcool, à maconha, atributos que não possuem.
As drogas, como qualquer objeto, necessita de um ato humano para lhes dar sentido e valor. São externos aos humanos, enquanto que a alegria, o prazer, o sucesso, a solidão e tantos outros sentimentos nascem nos humanos, são internos, de nossa natureza.
Por último, penso no nome da artista – AMY – que soa ame, do verbo amar em português, e WINEHOUSE, vinho e casa. Será que estes dois significante em inglês foram determinantes em sua vida ? É possível.
Certo é, que uma jovem morreu quando deveria viver mais, muito mais, pela lógica humana que rege o tempo, porque a lógica dos deuses é outra.
Cordialmente,
Antonio Nery Filho

terça-feira, 16 de agosto de 2011

Síndrome do ninho vazio

Quando os filhos resolvem sair de casa, as mães enfrentam um período de tristeza e vazio que parece não ter fim; saiba como lidar


A paulistana Teresa Machado, 48 anos, passou noites sem dormir quando viu no jornal que o filho havia passado em uma universidade pública, no estado do Paraná. Do dia em que viu o resultado até a data oficial da mudança foram 2 meses. O suficiente para ela ter de procurar ajuda e precisar de alguns remédios. “Eu sabia que era um momento importante para o meu filho, mas a dor foi muito grande. Era como se a minha vida perdesse todo o sentido. Procurei ajuda, porque eu sabia que não podia responsabilizá-lo pela minha felicidade”, desabafa a mãe.
Essa sensação de solidão, vazio e perda é bastante comum em famílias que veem seus filhos fazer as malas e cair no mundo. Mas parece que a forma de encarar esse momento passou por algumas mudanças. “A Síndrome do Ninho Vazio sofreu transformações. Era caracterizada por uma sensação de profunda tristeza dos pais, quando seus filhos já criados ou em fase de formação – faculdades, por exemplo – saíam de suas casas para tomar um rumo próprio e deixavam seus pais em casa, sem saber o que fazer para suprir essa falta”, explica Yechiel Moises Chencinski especialista em pediatria pela Santa Casa de São Paulo e em homeopatia pelo Centro de Estudos, Pesquisa e Aperfeiçoamento em Homeopatia (CEPAH).
De acordo com o especialista, apesar desse momento de saída do lar ainda estar presente na maioria das famílias de hoje, ela sofre a concorrência de duas situações:
- As mulheres assumiram novos papéis mais ativos no mercado de trabalho, chegando à maternidade mais tardiamente (entre 30 e 35 anos, por exemplo). Não são exclusivamente mães e já preenchem suas vidas com outras atividades. Dessa forma, quando os filhos resolvem “bater asas” e sair de seus ninhos, elas já têm um novo comportamento, criado por um novo modelo de família. E aí isso passa a ser apenas um caminho natural para o qual eles foram preparados durante toda a sua vida.
- Começa a surgir, na contramão dessa situação, a “Geração Canguru”, que leva à “Síndrome do Ninho Cheio”: é cada dia mais comum os filhos ficarem em casa por muito mais tempo do que o previsto e observado há algumas décadas, pela comodidade da situação e condição financeira ainda não tão estável que permita altos voos. Afinal, arrumar emprego não está tão mais fácil assim nos dias de hoje.
O que fazer?
Mesmo assim, se não for por uma situação esperada e preparada, o “esvaziamento do ninho” pode causar certo desconforto familiar. O pai e a mãe não podem se esquecer de sempre serem marido e esposa e até, muito antes disso, homem e mulher.
Buscar a individualidade de cada um dentro do núcleo familiar é super importante para que todo mundo tenha uma identidade própria como indivíduo, sem se apoiar e depositar seus desejos em quem convive embaixo do mesmo teto. “Uma vez estabelecidos os papéis, com os vínculos fortalecidos e os espaços respeitados, pais e filhos podem crescer juntos, aprender e curtir com prazer o caminho, fazendo da vida uma estrada que leve a caminhos saudáveis e felizes. Com essa família forte, o ninho não ficará vazio nunca”, explica o especialista.
Sentimento e expressão
A cantora Paula Toller também passou por esse momento de aflição quando o seu filho Gabriel estava com 16 anos e decidiu viajar por um tempo. “Foi como um segundo parto, dar à luz novamente para que ele pudesse seguir seus passos”, conta a cantora em entrevista para a jornalista Melissa Lenz. E para colocar para fora o que ela sentiu, Paula escreveu “Barcelona 16”, canção que está no segundo CD solo, “Sonos”.
A música explicita bem as dores e as alegrias de ver o filho bater asas. “Eu não sabia que existia/ Esse outro parto de partir/E me deixar na beira do cais/ Filho sempre meu não mais”. E no refrão a cantora, apesar de triste, dá toda a força que Gabriel precisa para correr atrás dos sonhos. “Solta da minha mão/ Leva o seu violão/ Dentro do mochilão/ Leva também o meu coração”.
Apesar de parecer que você perdeu a sua cria, saiba que o seu casamento pode ganhar muito com isso. Em entrevista ao “New York Times”, Sara Melissa Gorchoff, especialista em relacionamentos adultos na Universidade da Califórnia, em Berkeley, explica que a satisfação conjugal pode aumentar com a saída dos filhos "Não é como se eles tivessem vidas horríveis. Os pais eram felizes com os filhos. Mas o casamento pode melhorar quando eles saem de casa".
Isso porque não é justo que você viva a sua vida e função dos seus filhos e que o seu casamento só exista na presença deles. Faz mal para você e para quem convive com você. “Vai ser muito decepcionante constatar que vivemos nossa vida ‘para’ os outros e não ‘com’ os outros. Nós não possuímos nossos filhos. Nós não podemos (e não devemos) viver a vida de nossos filhos”, explica o pediatra Checinski.
Na hora H
Caso esse momento de sair do ninho não tenha sido preparado e planejado, você sentirá fortemente a sensação de perda. Nessa hora, vale se analisar e pensar em algumas questões. O médico indica algumas: “O que está faltando para esse casal? O que aconteceu na dinâmica dessa família que centralizou a atenção exclusivamente sobre esse filho? Onde estão os indivíduos nessa casa?”.
Não há uma fórmula matemática para vivenciar essa etapa indispensável de forma prazerosa. Mas, para ajudar, o pediatra separou 5 dicas:
- Mantenha-se íntegra, inteira, buscando sua realização pessoal no trabalho, na sociedade, na vida familiar;
- Crie uma boa estrutura familiar que permita que esse filho vá, mas também permita que ele se sinta acolhido e encontre espaço sempre que quiser ou precisar voltar;
- Busque trabalho, atividades físicas prazerosas, veja amigos (que, possivelmente, na mesma faixa etária, devem estar passando pelas mesmas situações), (re)aqueça a chama do casamento;
- Tenha sempre ética, verdade e respeito nos relacionamentos;
- Não se esqueça do ditado “Carpe diem” - que significa nada mais do que gozar o dia, viver o presente, aproveitar a jornada!

Glycia Emrich

domingo, 24 de julho de 2011

Doença política: Congresso na Holanda revela que as medidas antitabagismo adotadas por países europeus reduziram os casos de câncer de pulmão

Ao participar do maior congresso mundial sobre câncer de pulmão, tive a oportunidade de ouvir uma palestra magistral proferida pelo professor doutor Peto. O cientista argumenta que o câncer de pulmão não passa de uma doença política. Depende, fundamentalmente, de decisões políticas para erradicá-las da face da Terra. Os números falam por si. No início do século XX, começou a epidemia do consumo sistemático do tabaco. Não demorou mais do que 15 a 20 anos para o número de novos casos de câncer de pulmão começar a aumentar muito, de forma paralela ao consumo do tabaco.

No começo do século passado, as campanhas antitabagismo que se instalaram em vários países conseguiram reduzir, de certa forma, o número de fumantes. Novamente, 15 anos após a queda do número de fumantes, as autoridades de saúde começaram a notar franca diminuição da incidência de câncer de pulmão na população, com menos casos novos diagnosticados todos os anos.

Durante esse congresso, em Amsterdã, várias novidades foram publicadas, com o impacto na qualidade e na quantidade de vida dos pacientes com tumores malignos de pulmão. Pequenos avanços, mas claros. No entanto, nada se compara com o evitar desse tipo de câncer. E basta dificultar o acesso ao cigarro, como advoga estrondosamente doutor Peto.

O exemplo que ele traz vem do país europeu vizinho à França. Uma medida política teve um efeito óbvio. Os legisladores autorizaram um aumento expressivo do preço dos maços de cigarro comercializados nas ruas do país. Pouco tempo depois o número de fumantes diminuiu drasticamente. E, para alegria dos legisladores, afinal, vereadores, deputados e senadores franceses e brasileiros também precisam de orçamentos e dinheiro para, entre outras coisas, executar seus projetos públicos, três ótimas notícias: o número de fumantes reduziu-se drasticamente, os gastos públicos com saúde, não somente com o câncer, também diminuíram e a arrecadação dos impostos derivados do cigarro também aumentou. O baixo consumo foi compensado pelo aumento exagerado do preço de cada maço. É a política fazendo medicina preventiva da melhor qualidade.

No mesmo congresso, finalmente foi divulgado o estudo tão esperado, que poderia aumentar as chances de se detectar câncer de pulmão em fase muito precoce. Cedo o suficiente para que seus portadores consigam atingir taxas que ultrapassem 90% de cura e de controle da doença por muitos anos. O sistema de rastreamento, conhecido em inglês como screening, faz a detecção precoce de nódulos malignos pequenos, em fumantes e ex-fumantes sem nenhum sintoma relacionado.

Utilizando a tomografia de baixa radiação, conseguiram reduzir a mortalidade por câncer de pulmão em 20% nessa população de alto risco. Infelizmente, essa técnica traz uma preocupação: a maioria absoluta dos nódulos, mais de 96%, encontrados nessas tomografias, não é maligna. Ou seja, a maioria não é câncer, e submetem as pessoas à ansiedade, estresse emocional, exames adicionais e até cirurgias desnecessárias.

No entanto, como enfatiza doutor Goldstraw, cirurgião especialista que acompanhou o estudo, esse programa de screening para câncer de pulmão tem de ser feito por quem sabe ver e interpretar as tomografias, e não em qualquer esquina. Mais uma ação política que poderia impactar o futuro da saúde de nossa população. Esperamos que algum legislador brasileiro leve esses dados a sério.
Fonte: Carta Capital

sexta-feira, 22 de julho de 2011

Afastamento do trabalho por uso de droga cresce 22% em 2011

Há muito tempo fora de controle, o consumo de drogas no Brasil toma proporções cada vez maiores, inclusive com prejuízos na mão-de-obra.

Há muito tempo fora de controle, o consumo de drogas no Brasil toma proporções cada vez maiores, inclusive com prejuízos na mão-de-obra. Há quatro meses, Daniel Meana, 33, levou um ultimato dos donos da empresa que gerencia: ou parava de usar drogas ou seria demitido.

Ele prometeu deixar o vício. A doença, no entanto, foi mais forte, desabafa Meana.

Gastou R$ 900 de um adiantamento em menos de um dia -saiu da companhia às 14h de sábado e voltou para casa às 2h de domingo. "Fiquei bebendo cerveja e cheirando cocaína", lembra.

A perda de controle gerada pela experiência e uma briga o fizeram parar. O profissional decidiu buscar ajuda em clínica de reabilitação.

Depois de um mês internado, voltou à empresa e teve seu cargo de volta. O rendimento profissional melhorou tanto que recebeu aumento.

Histórias como a do gerente têm se repetido no Brasil. No primeiro semestre de 2011, 21.273 trabalhadores foram afastados de seus postos para tratar transtornos causados pelo uso de substâncias psicoativas -que agem no sistema nervoso central produzindo alterações de comportamento, humor e cognição.

Alta de 22%

O número representa crescimento de 22% em relação ao mesmo período de 2010 (17.454). São licenças concedidas pelo INSS (Instituto Nacional do Seguro Social) por problemas causados por uso de drogas ilícitas como cocaína e abuso de remédios sedativos e estimulantes, como antidepressivos e ansiolíticos (para controle da ansiedade).

Dos executivos, 15% usam substâncias psicoativas, segundo pesquisa do HCor (Hospital do Coração) com 829 pessoas de abril de 2009 a março de 2010, obtida com exclusividade pela Folha.

Competitividade, pressão por resultados e solidão são uma combinação explosiva entre executivos. Com receio de perder o posto e impelidos a trazer retorno para a companhia, muitos escondem o uso de drogas -sejam ansiolíticos sejam drogas ilícitas.

"O executivo é muito solitário, e o ambiente é altamente competitivo. A demonstração de fraquezas é duramente tratada", afirma Antonio Carlos Worms Till, diretor da clínica Vita Check-Up.

A imagem que as corporações têm dos profissionais que compõem o alto escalão é a de heróis. "Se ele não for o super-homem, será preterido em relação a outros e malvisto politicamente", frisa.

O cenário torna a identificação de executivos para tratamento e auxílio dentro das companhias uma tarefa hercúlea. A dificuldade é sentida até mesmo em hospitais.

As psicólogas Mariana Guarize e Janaína Xavier Santos, que coletaram dados sobre uso de remédios controlados e drogas ilícitas para pesquisa no HCor, contam que, frequentemente, o profissional só assume o uso de psicotrópicos em entrevista, não em formulários.
Fonte: Abead

quinta-feira, 14 de julho de 2011

Descaso público com o crack

Já são 900 mil os dependentes químicos de cocaína e crack no país. Número insuficiente para o governo federal reagir com a rapidez que a tragédia exige.

Mesmo sabendo que a droga já chegou a 98% dos municípios brasileiros - e ainda sem um estudo técnico para definir as ações públicas -, a secretária nacional de Políticas sobre Drogas, Paulina Duarte, afirma que falar em epidemia "é uma grande bobagem".

Governo aplicou apenas 20% dos R$ 410 milhões previstos para o combate ao entorpecente.

Eles já chegam à impressionante marca de 900 mil no país, formando um exército de dependentes químicos da cocaína e crack que não para de crescer, de acordo com levantamento da Organização das Nações Unidas (ONU). Desde junho do ano passado, o governo reservou quase meio bilhão de reais para alterar a realidade, mas até agora não foram aplicados nem 20% dos recursos previstos, apesar da deficitária estrutura de atendimento. O Plano Nacional de Combate ao Crack e Outras Drogas, anunciado ainda no governo Lula, não decola. Isso, apesar de a considerável cifra de R$ 410 milhões ter sido pulverizada entre os ministérios da Justiça, da Saúde e do Desenvolvimento Social e Combate à Fome.

Hoje, o Brasil sequer conhece a face de seus dependentes químicos, em especial do crack. O último levantamento oficial sobre o uso de drogas no país foi feito em 2005 e uma nova pesquisa seria concluída em março. Mais uma vez, fez água, conforme admite a própria Secretaria Nacional de Política sobre Drogas (Senad). Uma pesquisa feita pela Confederação Nacional dos Municípios (CNM), em dezembro do ano passado, mostrou que 98% dos municípios brasileiros têm dependentes químicos, inclusive, de crack. Desses, apenas 14,7% têm Centros de Atenção Psicossocial (CAPs) e 8,4% contam com programas locais de combate ao crack.

Mesmo sem dados científicos sobre a realidade brasileira do crack, a secretária Nacional de Política sobre Drogas, Paulina Duarte, desdenhou da tese sobre o país viver uma epidemia de crack: "É uma grande bobagem." O presidente da Comissão Especial de Combate às Drogas da Câmara dos Deputados, Reginaldo Lopes (PT-MG), discorda. Para ele, há um endemia que deve ser tratada como crônica. "Do ponto de vista político, é melhor tratar como epidemia, aprimorar e efetivar políticas públicas do que depois correr atrás do prejuízo", destacou.

Sem atendimento

Ainda assim, o Plano de Enfrentamento do Crack e Outras Drogas deixa de contemplar cerca de 62% dos municípios brasileiros com a rede de atendimento pública a dependentes. Ele limitou o acesso às ações apenas a cidades com população acima de 20 mil habitantes, um total de 1.643 (29,5%). Para os demais, está prevista apenas a possibilidade de implantação de Núcleos de Apoio à Saúde da Família. Anunciada com alarde pela Senad, a construção de 2,5 mil leitos em todo o país significa apenas meia vaga para cada município brasileiro. Além disso, a tentativa de lançar editais públicos para contratação de vagas de internação não surtiu efeito. Foram tantas as exigências que não houve interessados.

Financiamento das ações

Agora, a presidente Dilma tenta tomar as rédeas do processo. No último dia 22, ela prometeu incluir as entidades de combate às drogas dentro das estratégias de governo, além de criar forma de financiamento das ações. A presidente, no entanto, rejeitou proposta de criar por medida provisória uma contribuição social de 1% sobre a venda de bebida e tabaco, para financiar o Fundo Nacional de Combate às Drogas. O governo analisa agora como financiar o problema. Os R$ 410 milhões destinados ao combate às drogas no ano passado foram pulverizados entre os ministérios da Saúde, que ficou com R$ 90 milhões; da Justiça, ao qual coube R$ 220 milhões; e do Desenvolvimento Social e Combate à Fome, que abocanhou R$ 100 milhões. Dos agraciados com a verba, apenas a pasta de Saúde diz ter gasto R$ 70 milhões dos R$ 90 milhões recebidos para a área.

Apesar da baixa execução orçamentária, a base do governo na Câmara dos Deputados pretende impedir um contigenciamento dos recursos destinados ao enfrentamento de drogas na votação da Lei de Diretrizes Orçamentárias (LDO), que deve entrar na pauta na próxima semana. "Primeiro é necessário trabalhar a destinação orçamentária e a qualidade da política pública e depois a baixa execução, que não corresponde com a necessidade de enfrentamento", destacou a deputada Érika Kokay (PT-DF), que integra a Comissão Especial de Políticas Públicas de Combate às Drogas.

O psiquiatra Aloísio Andrade, presidente do Conselho Estadual de Política sobre Drogas de Minas Gerais, diz que é frustrante ver que os recursos do governo federal não têm conseguido alterar a realidade do assistência ao dependente no Brasil. "Enquanto patinamos sem uma política eficaz de combate à dependência química, estamos formando um exército de mulas em cabeça, soltando fogo pelas ventas", diz Andrade, se referindo aos usuários de crack.

Fonte: Correio Braziliense



Projeto de lei poderá garantir internação obrigatória de criança viciada

Psiquiatra e juíza ouvidos pela CCJ são favoráveis à internação compulsória, mas a deputada Manuela d'Ávila alerta para uma possível afronta aos direitos da criança.
Solange Almeida: projeto para garanti internação independente da vontade do viciado.
A experiência da cidade do Rio de Janeiro no abrigamento compulsório de crianças usuárias de crack pode servir de base para um projeto de lei na Câmara dos Deputados. Na capital fluminense, desde maio, a Secretaria Municipal de Assistência Social retira das ruas as crianças viciadas em crack. Elas são internadas com autorização da Justiça e recebem tratamento especializado para se libertar do vício. A experiência foi discutida nesta terça-feira na Comissão de Constituição e Justiça e de Cidadania, a pedido da deputada Solange Almeida (PMDB-RJ).
A parlamentar estuda, agora, a possibilidade de apresentar um projeto que obrigue o governo a garantir a internação compulsória de crianças e adultos viciados em crack, mesmo que eles não queiram ser internados.
A Secretaria de Assistência Social do Rio já conseguiu reduzir em 86% o número de adolescente e crianças acolhidos nas cracolândias e em outros pontos de consumo de drogas. Solange Almeida explica que o secretário municipal de Assistência Social do Rio de Janeiro, Rodrigo Bethlem, conseguiu romper uma barreira que havia com a legislação que não permite a internação involuntária - o chamado abrigamento compulsório. “Ele conseguiu isso numa parceria com o Ministério Público, a Vara da Infância e Juventude, a Delegacia de Proteção de Crianças e Adolescentes. Ele vai à Cracolândia, onde estão os usuários de crack, e recolhe aquelas pessoas. Os menores de idade, via liminar judicial, ele consegue interná-los."
Estudo brasileiro publicado na revista da Academia Americana de Psiquiatria mostra a eficácia da internação compulsória no tratamento de dependentes químicos.
O psiquiatra Jorge Jaber, diretor da Associação Brasileira de Alcoolismo e Drogas, estudou casos de viciados em diversos tipos de drogas - como cocaína, crack, maconha e álcool. Mesmo internados por 18 meses para tratamento contra a própria vontade, 66% dos dependentes se recuperaram do vício.
"Em relação à dependência química, havia o mito de que a pessoa deveria querer se tratar. Realmente isso acontece, mas é preciso que essa pessoa passe um período sem usar drogas para que ela recupere a capacidade mental e possa reconhecer que o tratamento é importante para ela", explicou o psiquiatra na audiência pública.
O apoio à internação compulsória para o tratamento de viciados, no entanto, não é unânime. A presidente da Comissão de Direitos Humanos, deputada Manuela d'Ávila (PCdoB-RS), alerta para uma possível afronta aos direitos da criança, quando um juiz, e não um familiar, decide pela internação.
“Em nosso País não existem espaços para internação, não existem padrões de internação”, lembrou a parlamentar. “E nós não podemos, por ordem judicial, internar uma criança, por exemplo, numa fazenda terapêutica de uma religião distinta da sua. É preciso respeitar valores, a cultura”.
A juíza da 1ª Vara da Infância do Rio de Janeiro Ivone Caetano, que também participou do debate, discorda de Manuela d'Ávila. Segundo a magistrada, a criança viciada em crack e exposta aos perigos do vício e das ruas, já não tem nenhum direito garantido. Ivone Caetano afirmou que, enquanto não houver lei que permita o tratamento adequado, ela vai continuar autorizando a internação compulsória de crianças viciadas.
Psiquiatra e juíza ouvidos pela CCJ são favoráveis à internação compulsória, mas a deputada Manuela d'Ávila alerta para uma possível afronta aos direitos da criança.
Fonte:Agência Câmara
Brasília - DF

ECA mudou a maneira de a sociedade lidar com crianças e adolescentes, diz secretária

A secretária nacional de Promoção dos Direitos da Criança e do Adolescente, Carmen Oliveira, avalia que o Estatuto da Criança e do Adolescente (ECA), que completa hoje (13) 21 anos, mudou a maneira como a sociedade lida com o público infantojuvenil. “[Antes do ECA] eles [crianças e adolescentes] eram considerados sujeitos menores de idade e menores também no acesso a direitos.”
Segundo a secretária, o ECA trouxe diversos avanços para o Brasil. Um dos pontos mais importantes foi a criação dos conselhos tutelares. “O conselho tutelar é uma figura ímpar, pois não existia na história brasileira antes do estatuto. Atualmente, 98% dos municípios têm conselhos tutelares”.
De acordo com ela, o governo pretende aumentar os investimentos nessas unidades. “É um investimento que vai ser feito para qualificar esse atendimento, para que realmente não tenhamos os problemas que temos, como conselho tutelar sem telefone, sem sala apropriada para atendimento, sem carro para fazer uma abordagem na rua ou para buscar uma situação de violação de direitos.”

Confira a seguir a entrevista com a secretária:
Agência Brasil: O Estatuto da Criança e do Adolescente completa 21 anos nesta quarta-feira. O que mudou nessas mais de duas décadas de vigência do estatuto?
Carmen Oliveira: De um modo geral [houve mudanças] sim, mas com algumas restrições. Temos hoje uma visível mudança do que tínhamos na vigência do antigo Código de Menores. Em primeiro lugar, porque não estava assegurada naquele marco legal a noção de que criança e adolescente têm direitos fundamentais, direitos humanos e iguais aos dos adultos. Eles eram considerados sujeitos menores de idade e menores também no acesso a direitos. Há, atualmente, um respeito maior sobre a opinião de crianças e adolescentes. Eles são chamados a dar suas opiniões, emiti-las, inclusive nos procedimentos judiciais. Isso é assegurado.
ABr: A maneira como a sociedade e as famílias lidam com crianças e adolescentes também mudou?
Carmen: Estamos vivendo um momento peculiar na vida contemporânea. Durante séculos, a infância e a adolescência não estavam na pauta. Não havia essa convivência com a própria família, tampouco com a comunidade. O conceito de infância é muito recente na história da humanidade e do adolescente é mais recente ainda. Temos as instituições e as famílias. Quando falo instituições, não falo só sobre as instituições de atendimento, mas também sobre a escola, que tem uma visão diferente dessa criança e desse adolescente. Não podemos atribuir isso apenas à vigência do estatuto, mas às mudanças culturais que foram acontecendo. Vivemos hoje um momento de implementação do estatuto e de mudanças culturais dentro deste momento da história da humanidade que faz com que a infância e a adolescência não sejam a mesma que tínhamos há 20 anos.
ABr: É difícil falar sobre o ECA e não abordar a questão social. Entre 2002 e 2010, houve um crescimento de 9.555 para 17.703 do número de adolescentes internados. Esse foi justamente o período em que houve o maior movimento de inclusão social e ascensão de classes econômicas. Por que houve esse crescimento? A questão da necessidade de cumprir medidas socioeducativas está atrelada à exclusão social?
Carmen: Podemos agrupar esses números sem distorcê-los. Por exemplo, pegando o corte de 1996 a 2004, tivemos um crescimento na internação de 218%. É praticamente impossível administrar um sistema iniciado com uma gestão com mil adolescentes e concluído com 2 mil. O que acontece é que você tem as mesmas unidades de internação para atender o dobro de meninos, e nessa duplicação você vai ter unidades superlotadas. Isso, para nós, é quase sinônimo de violação dos direitos. De 2004 a 2010, nós tivemos um aumento de 31% [das internações de adolescentes], ou seja, caiu de 218% para 31%. Em 2006, começamos a trabalhar já com o Sistema Nacional de Atendimento Socioeducativo [Sinase]. O sistema socioeducativo no Brasil tende à estabilização no momento. Nós estamos, assim, oscilando entre um ano sem crescimento, para anos com aumento de 2%, 4%. No ano passado, os 4% de crescimento são resultado do aumento na internação provisória [quando o juiz interna o adolescente provisoriamente até tomar uma decisão a respeito da medida que será aplicada].
ABr: Ainda há pontos que possam ser melhorados no ECA, passados esses 21 anos?
Carmen: Sim. Defendemos o contínuo aperfeiçoamento do estatuto. Não o consideramos um marco legal. Várias mexidas já foram feitas no ECA, tentando melhorar aquilo que se apresentava como lacuna ou até mesmo com uma certa impropriedade. Um exemplo concreto disso foi a Lei de Adoção, aprovada recentemente. Ela melhora o estatuto em vários pontos, tanto nos procedimentos de adoção quanto nos de abrigamento institucional. No que diz respeito ao sistema socioeducativo, temos hoje em tramitação no Congresso Nacional um projeto de lei que institui o Sistema Nacional de Atendimento Socioeducativo. Ele aprimora várias coisas do estatuto, como o cumprimento de medida de internação. O único direito restrito ao adolescente é o de ir e vir. Ele tem que ter acesso à saúde, à educação, à profissionalização. O Sinase vai tornar mais concreto o que deve ser feito nos casos de aplicação de medidas socioeducativas, inclusive as responsabilidades que o gestor tem na oferta desses cuidados.
ABr: Como está a questão dos conselhos tutelares no país?
Carmen: Um ponto a ser destacado são os conselhos tutelares. O conselho tutelar é uma figura ímpar, pois não existia na história brasileira antes do estatuto. Ele é tão pioneiro que não existe em nenhum outro lugar do mundo. Temos uma implantação muito boa, pois 98% dos municípios brasileiros têm conselho tutelar. Porém, a maioria funciona com grande precariedade. O entendimento da ministra Maria do Rosário [da Secretaria de Direitos Humanos] é que os conselhos tutelares são a nossa ponta de lança em direito da criança e do adolescente nos municípios. Vamos fazer um grande investimento de reordenamento. As instalações físicas serão financiadas, também haverá atendimento com um kit e equipamentos. É um investimento que vai ser feito para qualificar esse atendimento para que realmente não tenhamos os problemas que nós temos, como conselho tutelar sem telefone, sem sala apropriada para atendimento, sem carro para fazer uma abordagem na rua ou para buscar uma situação de violação de direitos.

Fonte:Daniella Jinkings e Gilberto Costa
Da Agência Brasil
Em Brasília

Drogas e Gravatas

NA TERÇA, 14 de junho, a Folha publicou, na Primeira Página, as imagens de um homem de paletó e gravata que comprava e fumava um cachimbo de crack, numa rua do centro de São Paulo.
No último domingo, Suzana Singer, ombudsman do jornal, em sua coluna, perguntou: "Por que a Folha decidiu expor dessa forma um suposto viciado?". A Secretaria de Redação respondeu: "A política do jornal vinha sendo não resguardar a identidade dos usuários de crack em locais públicos. Não vimos motivo para alterarmos o padrão porque a personagem, desta vez, vestia paletó e gravata".
Em suma, a reportagem queria mostrar que "o fenômeno do crack não se confunde com a pobreza e não atinge apenas moradores de rua". A reportagem notava, aliás, que, entre os "usuários eventuais, que vão à região para fumar uma pedra", há até "senhores com cerca de 60 anos vestindo terno".
De repente, dei-me conta de que, ao longo dos anos, vi dezenas de fotografias de drogados errando pela cracolândia, mostrados sem disfarce, mas não tenho memória de seus rostos. É como se eles não fossem indivíduos -apenas genéricos "noias", como eles são chamados pelas ideias paranoicas que os acometem. No entanto, o engravatado da foto de terça-feira era diferente: ele era reconhecível, singular -talvez porque sua aparência deixava supor que ele não tivesse se transformado (ainda?) num noia.
O crack é hoje o protótipo da droga que leva rapidamente à perdição. Será que a foto do engravatado mostra que existem usuários de crack que não se tornam noias? Será que é possível um uso lúdico do crack?
Não sei dizer, mas, ao ler as memórias de Bill Clegg, "Retrato de um Viciado Quando Jovem" (Cia. das Letras), qualquer leitor pode sentir quase na pele a prepotência com a qual a fissura se instala ao centro da vida de um usuário de crack, por mais engravatado que seja.
O texto é comovedor, pela ingenuidade do viciado e de nós, leitores, que, como o viciado, inevitavelmente, a cada vez, acreditamos que ele voltará à sua vida depois de só mais um cachimbo. Comovedor e também exasperante: como é que o cara não consegue se controlar e conciliar sua vida amorosa e profissional com uma tragada de vez em quando? "Segura tua onda, rapaz", a gente fica a fim de gritar.
Trivialidade: a virulência da fissura, assim como a natureza da dependência, é diferente para cada droga. Engravatado à parte, o crack transforma quase imediatamente seus consumidores em adictos, enquanto há pessoas que, durante a vida toda, fumam só um cigarro ou um baseado por semana.
Outra trivialidade: talvez tão importante quanto as qualidades específicas de cada droga seja o fato de que, por alguma diferença de personalidade e disposição, há usuários que se perdem na toxicomania e outros que parecem nunca correr esse risco.
A clínica com adolescentes me ensinou isto: em geral, quem se vicia não é tanto quem acha sua vida dolorosa ou injusta, mas quem a acha chata, ou seja, quem não consegue se interessar por sua própria vida.
É possível se drogar porque a vida já é uma festa, e, quem sabe, com mais uma bola, ela se torne mais alegre. Essa conduta é sempre menos nociva da que consiste em drogar-se pela incapacidade de achar graça na vida que se tem. Quem se droga porque acha a vida chata tende a trocar a vida pela droga.
Nos últimos dias, fala-se muito da descriminalização da maconha. Estreou "Quebrando o Tabu", de Fernando Grostein; houve a intervenção de Fernando Henrique Cardoso (que é, aliás, âncora do filme de Grostein), e houve a liberação das marchas da maconha pelo STF. Vários leitores pediram que expressasse minha opinião.
Aqui vai: concordo com o projeto de descriminalizar o consumo de maconha, mas discordo de quem afirma que qualquer uso de maconha seria inócuo. Nos adolescentes, por exemplo, um consumo diário e intenso (solitário, já de manhã) é frequentemente o sinal de uma depressão que é MUITO difícil vencer, uma vez que ela se instala.
Entendo que alguém, mofando num tédio mortal (e inexplicado), chegue à conclusão de que a vida sem maconha é uma droga. Mas, infelizmente, em regra, a droga aprofunda o vazio que ela é chamada a compensar ou corrigir. Ou seja, talvez a vida sem maconha seja uma droga, mas a maconha sem vida também é.
Fonte: folha de SP on line – 23/06/11

domingo, 10 de julho de 2011

Subcomissão ouve experiências bem-sucedidas de prevenção e tratamento de dependentes químicos

Agência Senado



Em mais uma audiência pública da Subcomissão Temporária de Políticas Sociais sobre Dependentes Químicos de Álcool, Crack e outras Drogas, realizada na tarde desta quinta-feira (7), representantes do Sesi, do Sesc e da Petrobras apresentaram aos senadores experiências e iniciativas bem sucedidas de prevenção e tratamento de dependência química entre trabalhadores do comércio e da indústria.

Conduzida pelo presidente do colegiado, senador Wellington Dias (PT-PI), a reunião também contou com a participação da vice-presidente da subcomissão, senadora Ana Amélia Lemos (PP-RS).

O gerente corporativo de Saúde da Petrobras, Sérgio Antonio Rossato, apresentou as ações desenvolvidas pela estatal por meio da divisão de Segurança, Meio Ambiente, Eficiência Energética e Saúde (SMES), cujas atividades iniciaram na década de 1980. Ele explicou que essas ações seguem as orientações e diretrizes da Organização Internacional do Trabalho (OIT) e da Organização Mundial da Saúde (OMS).

Rossatto afirmou que a SMES tem programas específicos para tratar do uso, abuso e dependência de drogas lícitas, ilícitas e também de medicamentos. De acordo com as diretrizes internacionais seguidas pela Petrobras, a dependência química é considerada uma doença e assim é tratada.

Prevenção

O gerente da Petrobras informou que a empresa capacita funcionários para que a ideia de prevenção às drogas seja disseminada por todas as áreas e localidades onde a estatal atua. Ele acrescentou que são feitos investimentos em tratamento de dependentes e na reinserção ao trabalho dos recuperados.

As ações da SMES são interdisciplinares e envolvem funcionários, supervisores, gerentes, contratados, estagiários, familiares de trabalhadores e comunidade em geral. Também são mantidos "ambientes livre de tabaco" nas instalações físicas da Petrobras e subsidiárias.

Rossato disse ainda que a empresa promove campanhas como a Semana da Saúde, a celebração do Dia Internacional do Combate às Drogas, atividades de sensibilização para os períodos de Carnaval e férias e também palestras e seminários sobre outros assuntos como a violência no trânsito. Também são feitas campanhas de incentivo à prática de hábitos e alimentação saudáveis.

A assessora técnica da Gerência de Saúde do Departamento Nacional do Serviço Social do Comércio (Sesc), Luciana Garritano Barone do Nascimento, expôs as ações promovidas pelo Sesc e pela Confederação Nacional do Comércio de Bens, Serviços e Turismo (CNC). De acordo com ela, essas ações de prevenção e combate às drogas são realizadas entre os comerciários e seus familiares e também com a comunidade em geral. Desde 2002 essas atividades contam com parceria com a Secretaria Nacional Antidrogas, acrescentou.

Os projetos são desenvolvidos em vários estados do país, tanto em áreas urbanas quanto em rurais e envolvem palestras e campanhas educativas que levam em conta a realidade de cada local.

Parceria

Além disso, CNC, Sesc e Senac promovem em parceria programas de rádio onde o tema drogas é constantemente abordado. Esses programas radiofônicos são disponibilizados para mais de mil rádios comunitárias espalhadas pelo país. O tema álcool e outras drogas também é trabalhado junto a alunos e professores das escolas do Sesc, informou Luciana Barone.

Por sua vez, a gerente da Unidade Estratégica de Resultados de Responsabilidade Social do Departamento Regional do Serviço Social da Indústria (Sesi) do Rio Grande do Sul, Rosângela Lengler, apresentou aos senadores o Programa de Prevenção do Uso de Drogas no Trabalho e na Família, projeto desenvolvido desde 1994 pelo Sesi e pela Confederação Nacional da Indústria (CNI) em parceria com o Escritório das Nações Unidas sobre Drogas e Crime (Unodc).

Segundo Rosângela Lengler, o programa busca desenvolver uma "cultura de prevenção às drogas" junto aos trabalhadores do setor industrial, com foco também na redução do uso de drogas lícitas como tabaco e álcool. As estratégias envolvem, além da prevenção, pesquisas entre os empregados das indústrias e também tratamento de saúde para os dependentes.

O programa já funciona em 18 estados brasileiros e também em quatro outros países sul-americanos, envolvendo 97 empresas e já contabilizando mais de 216 mil trabalhadores atendidos.

Resultados

Os resultados, segundo a representante do Sesi, são animadores: houve redução em 16% do número de fumantes; diminuição de 12,5% no consumo de álcool; redução de 10% no número de falta de trabalhadores, de 30% nos atrasos e, ainda, diminuição em 34% no número de acidentes de trabalho.

No início da audiência pública, Wellington Dias chamou a atenção para a importância de debates deste tipo e disse que o Brasil já possui cerca de 18 milhões de dependentes químicos de drogas lícitas e ilícitas. Ele também afirmou que outras empresas públicas e estatais como a Caixa Econômica Federal e o Banco do Brasil deveriam seguir o exemplo da Petrobras nesse campo.

Ana Amélia elogiou as instituições representadas na reunião pelos programas e projetos desenvolvidos e aproveitou para fazer diversos questionamentos acerca da organização dessas iniciativas, dos resultados alcançados e também sobre outros detalhes operacionais, tudo para subsidiar os trabalhos da subcomissão.

A Subcomissão Temporária de Políticas Sociais sobre Dependentes Químicos de Álcool, Crack e outras Drogas, que funciona no âmbito da Comissão de Assuntos Sociais (CAS) do Senado Federal, já tem outra audiência pública agendada para a próxima terça-feira (12). Uma das convidadas será a embaixadora da Suécia no Brasil, que vai explicar as experiências daquele país em relação às drogas.

quinta-feira, 7 de julho de 2011

Jovens bebem muito em busca de benefícios sociais

Para muitos, a perda da timidez compensa ressaca e outros efeitos negativos do álcool

Um artigo publicado na versão online da revista Psychology of Addictive Behaviors mostrou que efeitos positivos, como a perda de timidez, justificam o abuso de bebidas alcoólicas e seus efeitos negativos, como passar mal e vomitar. O estudo foi realizado por psicólogos da University of Washington, nos Estados Unidos.

A pesquisa contou com cerca de 500 universitários que completaram um formulário online que avaliava a frequência com a qual os participantes bebiam. Também fazia parte do teste saber quais prejuízos, como ressaca, desmaio e brigas, já haviam sido enfrentados pelo excesso e quais benefícios, como perda de timidez, melhor habilidade para contar piadas e energia para ficar até o fim da festa, haviam sido ganhos.

Os resultados mostraram que a maioria dos entrevistados se sujeitaria a sofrer todos os efeitos de beber em excesso novamente. Além disso, eles apontaram as experiências positivas como superiores em importância e mais prováveis de acontecer no futuro.

Segundo os psicólogos, o estudo sugere que, mesmo após experimentar as consequências negativas do excesso de bebida, a maioria das pessoas não opta por mudar o seu comportamento. Isso pode ser um alerta para que pais tentem trabalhar uma forma de abrandar os efeitos negativos do álcool em vez de simplesmente proibir seus filhos de consumi-lo.

Sinais do alcoolismo
Beber pode se tornar um hábito e, por ser socialmente aceito, você pode até não se dar conta de quão presente a bebida está em sua vida. Por isso, fique atento aos sinais abaixo para identificar a hora certa de pedir ajuda a um médico ou a alguma associação de apoio:

1. Você está bebendo muito, se é mulher, e bebe mais de três drinques em uma única vez ou mais de sete drinques na semana;

2. Você está bebendo muito, se é homem, e bebe mais de quatro drinques em uma saída ou mais de quatorze ao longo de uma semana;

3. Você desenvolveu uma tolerância, ou seja, o aumento da dose para gerar o mesmo efeito;

4. Sofre de síndrome da abstinência sem beber (a pessoa tem sudorese excessiva, tremores, insônia, náuseas e vômitos, convulsões, alucinações). Se eles se anulam ao beber álcool, é sinal da síndrome;

5. Tem fissura por beber a qualquer momento;

6. Tem problemas em diversas áreas da vida: no trabalho, nos relacionamentos, na saúde, tudo em função do consumo do álcool.

Fonte: Abead

Álcool triplica chance de desenvolver câncer

Uma pesquisa da Unesp de Rio Preto revela que o consumo de bebida alcoólica triplica a chance de desenvolver câncer no estômago.

Esse tipo de câncer é o terceiro mais frequente entre os homens e o quinto entre as mulheres. Além disso, ocupa as mesmas posições quando o tema é a causa de morte.

Segundo o gastroenterologista Renato Silva, 20 gramas de álcool por dia já são suficientes para aumentar o risco de câncer. “O consumo de álcool e fumo estão diretamente ligados a todos os tipos de câncer”, afirma. A pesquisa de doutorado da bióloga Juliana Garcia de Oliveira, coordenada pela professora Ana Elizabete Silva, analisou 723 amostras de DNA de pacientes do Hospital de Base, colhidas ao longo de 11 anos pela equipe da Unesp de Rio Preto.

Depois de 4 anos de estudos, a bióloga descobriu que, além do consumo de álcool, outros fatores também aumentam o risco de uma pessoa desenvolver câncer de estômago. De acordo com a pesquisa, concluída em fevereiro deste ano, homens têm quase duas vezes mais chances (1,82) de ter a doença do que as mulheres. Pessoas acima dos 60 anos têm uma chance a mais (1,65), comparado a pessoas com menos idade.

A coordenadora do projeto afirma que o fator ambiental é a principal causa da doença. “O câncer, de todos os tipos, surge devido a mutações no DNA das células. Essa mutação é provocada, geralmente, por fatores ambientais aos quais estamos expostos, como cigarro, álcool, radiação, medicamentos, drogas, etc. Nossas células estão sendo danificadas e mutadas todos os dias. Isso não significa que vamos ter câncer sempre, mas a medida que o tempo passa, vai aumentando o risco.”

Exemplo disso, é o caso de Valter Custódio Xavier Júnior, 59 anos, que recebeu o diagnóstico de câncer de estômago no final de março deste ano. Em 2006, Xavier fez tratamento para uma úlcera no Hospital de Base de Rio Preto. “Naquela época fizeram exames, mas não apareceu nada, acho que ficou mascarado”, conta. Em janeiro deste ano, a úlcera que tinha cicatrizado anos antes voltou a sangrar e ele procurou novamente o HB.

“Fiquei internado uns 20 dias, fizeram biópsia e novamente não encontraram nada, mas quando fiz o ultrassom, a médica achou que tinha algo estranho.” Diante da anomalia detectada, os médicos decidiram operar o paciente. “Eles me levaram para o centro cirúrgico antes mesmo de sair o resultado da segunda biópsia. Retiraram o tumor e enviaram para análise. Só aí fui saber que tinha câncer.”

Xavier fumou e bebeu socialmente há mais de 40 anos. “É um susto e muda a nossa vida. Sou diabético também, então minha dieta fica muito restrita, porque o que faz bem para uma doença, faz mal para a outra.” O paciente se submete a sessões de quimioterapia e radioterapia. Sem beber nem fumar desde fevereiro, ele acredita que não conseguirá remediar o estrago causado em seu organismo. “São mais de 40 anos fumando e tomando uma cervejinha no final de semana. Não adianta querer fazer tudo certo agora, tinha que ter feito lá atrás.”

Para o gastroenterologista Renato Silva, “beber socialmente” é uma ilusão. “Não existe isso, porque o socialmente de um não é igual ao do outro. Não temos uma definição exata do que é o ‘beber socialmente’. É importante. Uma latinha de cerveja por dia já é um fator agravante.”

Bactéria eleva risco da doença

Presente em aproximadamente 50% da população mundial, a bactéria Helicobacter pylori também aumenta o risco de câncer no estômago. “As pessoas contraem a bactéria por meio de alimentos e água contaminados e ainda pelo contato boca a boca”, diz o cirurgião gastroenterológico e chefe do serviço de cirurgia oncológica digestiva alta da Faculdade de Medicina de São José do Rio Preto (Famerp), Aldenis Borim.

Apesar de estar associada a doenças como úlceras e gastrite, a bactéria não causa sintomas no paciente. “Temos três maneiras de diagnosticar essa bactéria. Pode ser feita uma biópsia, um exame do sulco gástrico ou um teste respiratório”, diz. O tratamento é simples, porém caro. “Antes, se o paciente tinha úlcera era feito o tratamento da bactéria, mas os médicos perceberam que não era necessário esse tratamento em todos os casos. O valor dos medicamentos varia de R$ 100 a R$ 200”

Fonte: Diarioweb