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Recife, Boa Viagem PE, Brazil
Sou psicóloga,me dedico inteiramente a este meu trabalho. Pós graduanda em Saúde Mental com enfoque em álcool e outras drogas. Abordagem Terapia Cognitiva Comportamental. Atendo em Aldeia,Ilha do Leite, Boa Viagem e Gravatá. (81)9963-3553

domingo, 25 de setembro de 2011

Mortalidade do alcoolismo no Brasil é quase tão grande quanto a do crack

O índice de mortalidade entre dependentes de álcool no Brasil está próximo do registrado entre usuários de crack. Pesquisa inédita feita pela Universidade Federal de São Paulo (Unifesp) mostra que, em cinco anos, 17% dos pacientes atendidos em uma unidade de tratamento da zona sul de São Paulo morreram.
"É um número altíssimo. Na Inglaterra, o índice não ultrapassa 0,5% ao ano", diz o psiquiatra Ronaldo Laranjeira, coordenador do estudo.
O trabalho, que será publicado na próxima edição da Revista Brasileira de Psiquiatria, segue uma linha de pesquisa de Laranjeira sobre morte entre dependentes de drogas. O estudo feito entre usuários de crack demonstrou que 30% morreram num período de 12 anos. "Naquela mostra, a maior parte dos pacientes morreu nos primeiros cinco anos. Podemos dizer que os índices estão bastante próximos."
O estudo sobre dependência de álcool procurou, depois de cinco anos, 232 pessoas que haviam sido atendidas num centro do Jardim Ângela, zona sul, em 2002. Desse grupo, 41 haviam morrido - 34% por causas violentas, como acidentes de carro ou homicídios. Outros 66% foram vítimas de doenças relacionadas ao alcoolismo. "Os resultados estampam a falta de uma rede de assistência para esses pacientes. Todas as fases do atendimento são deficientes: desde o serviço de urgência, para o dependente em crise, até a rede de assistência psicossocial", diz Laranjeira.
Violência. Os altos índices de mortalidade são explicados por Laranjeira. Entre dependentes de álcool, principalmente nos casos mais graves, pacientes perdem o vínculo com a família, com o trabalho e adotam atitudes que os expõem a riscos, como sexo sem preservativo ou brigas.
A velocidade desse processo é maior entre pessoas de classes menos privilegiadas, avalia Laranjeira. "Como em qualquer outra doença, pessoas que têm acesso a um serviço de melhor qualidade têm mais chances de controlar o problema. Daí a necessidade de equipar melhor a rede pública", comparou.
O grupo avaliado na pesquisa da Unifesp ilustra esse processo. A totalidade dos pacientes atendidos era de classe E e D - 52,2% estavam desempregados. A idade média dos entrevistados era de 42 anos. "Debilitados e sem dinheiro, esse grupo dificilmente consegue se inserir novamente na sociedade", completou.
A ligação com a violência também está clara. O trabalho mostra que entre sujeitos que consumiram álcool, o risco de estar envolvido com crime era 4,1 vezes maior que entre os abstêmios.
Laranjeira lembra que o Jardim Ângela é bairro de periferia. "Mas os baixos indicadores dos pacientes analisados na pesquisa estão longe de refletir a população do bairro. Ali há economia, pessoas estão empregadas."
Religião. Além da alta mortalidade, a pesquisa conclui que atividades religiosas exercem um efeito protetor sobre os dependentes. Entre os que pertenciam a algum grupo, incluindo os de autoajuda, os índices de participação em crimes eram menores que entre os demais. Dos entrevistados que faziam parte de algum grupo religioso, 30,6% não tiveram participação em crime. Entre os que não estavam ligados a nenhum grupo religioso, 18% conseguiram se manter afastados de crimes.
"Num cenário de total desassistência, é ali que o grupo conseguiu apoio", diz Laranjeira. Um resultado que, na avaliação do pesquisador, é muito importante de ser considerado. "Numa doença que apresenta um índice de mortalidade de 17%, qualquer fator protetor deve ser estimulado, sem preconceito." Justamente por isso ele não hesitaria em recomendar para os pacientes procurarem grupos de apoio, incluindo os de natureza religiosa.
Fonte: Band FM

quarta-feira, 7 de setembro de 2011

Retrocesso nas arquibancadas

A imprensa tem informado que a Lei Geral da Copa pode permitir a venda de cerveja nos estádios durante o mundial de 2014

A sociedade lutou durante anos para institucionalizar essa regra e, após um longo período de conscientização e adaptação, a população em geral e os frequentadores dos estádios em particular entenderam que é uma medida benéfica. Ao concordar com essa exceção, vamos retroceder décadas em 30 dias. Além disso, vamos abrir um precedente para que a CBF e outras federações nacionais exijam o livre comércio em jogos da sua competência. 

Na prática, a concessão pode sabotar a lei. No Brasil, uma das grandes dificuldades para o funcionamento da legislação é que uma nova regra “pegue”. A proibição de bebidas nos estádios “pegou”, ou seja, após anos de luta superou o principal obstáculo. E é justamente esse ponto que ficará vulnerável se for atendida a exigência da FIFA. Ao verem pela televisão torcedores com suas cervejas na mão, muitos se perguntarão: Por que na Copa pode e no Brasileirão não pode?

Esse questionamento, errado, mas compreensível, pode promover o retrocesso, fazer retornar o álcool aos estádios e com ele todas as conseqüências negativas relacionadas à embriaguez. 

Devemos sempre lembrar que o álcool é um grande problema de saúde pública, principalmente nos estádios. É uma droga que amplifica rivalidades e facilita a expressão da agressividade. Em jogos de futebol isso pode ser explosivo, já que por sua natureza concentra grupos em natural oposição. 

Outra questão relevante é a relação entre cerveja e esporte, principalmente os ídolos do futebol. Isso é, na verdade, muito mais grave do que vender cerveja nos estádios. Se tivesse responsabilidade, a FIFA não permitira que uma cervejaria patrocinasse a Copa. Da mesma maneira a CBF e jogadores famosos não contribuiriam para a divulgação, e consequente estímulo do consumo, de bebidas alcoólicas. Nenhum deles, aliás, enfrentaria dificuldades financeiras se adotasse essa postura.

A propaganda é o principal fator para o consumo precoce, ou seja, entre jovens e adolescentes. E quando esses anúncios são protagonizados pelo técnico ou o artilheiro da seleção o estrago é multiplicado. Seria importante que, antes de participar desses comerciais, nossos ídolos se lembrem dos inúmeros jogadores promissores que tiveram suas carreiras interrompidas por causa do alcoolismo. E das 57 mortes diárias relacionadas ao álcool no país. E assumam sua parcela de responsabilidade nessa tragédia.

O futebol é um espetáculo que não depende do álcool para o seu sucesso. Queremos a Copa no Brasil, mas é preciso estabelecer limites. Não é aceitável negociar a saúde da população para receber o evento.

Carlos Salgado é psiquiatra e presidente da Associação Brasileira de Estudos do Álcool e outras Drogas (ABEAD)


Fonte: Lance