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Recife, Boa Viagem PE, Brazil
Sou psicóloga,me dedico inteiramente a este meu trabalho. Pós graduanda em Saúde Mental com enfoque em álcool e outras drogas. Abordagem Terapia Cognitiva Comportamental. Atendo em Aldeia,Ilha do Leite, Boa Viagem e Gravatá. (81)9963-3553

terça-feira, 12 de abril de 2011

Uma outra providência

Não foi o revólver que atirou em Realengo, foi a cabeça do atirador. Para casos de transtorno mental, falta o conhecimento de serviços capazes do auxílio
A MISTURA DE emoções penosas e cobranças e promessas de pretensas medidas preventivas é um hábito brasileiro, ainda que não só nosso. A combinação é péssima, com a pressa ocupando o lugar da calma indispensável para a ponderação dos problemas e das sempre variadas propostas para prevenir repetições do fato perverso.
Ainda nos desdobramentos imediatos da tragédia de Realengo estavam já propostas e promessas de ações entre pessoas emocionadas e representantes governamentais. Polícia na porta das escolas; fortalecimento e sistemas escolares de vigilância contra violência, ampliação prática das restrições à posse de armas são as majoritárias, muitas vezes igualado seu teor simplório ao pedantismo do "especialista" que também as propunha.
Um policial na porta da escola seria, como disse o secretário José Mariano Beltrame, o primeiro a morrer em Realengo. Esse gênero de proteção tem sido inócuo onde quer que ad otado.
Que o digam os bancos, os restaurantes paulistas com vigilante e os shoppings em todas as cidades. Fazer das escolas fortalezas seria absurdo em muitos sentidos, além da evidência de que mesmo quartéis são assaltados, inclusive em seus bancos internos como o da Vila Militar no Rio. E por aí vai.
Os projetos na Câmara e no Senado para ampliação do porte de armas, citados pela aritmética jornalística desde 11 até 300 e tantos na fila, não têm cabimento algum. Muito ao contrário, os portes admitidos por lei devem ser mais reduzidos. O que justifica, entre outros, o porte de arma por bombeiros? Mesmo o porte de armas livre para militares deveria ser objeto de exame (se isso fosse possível no Brasil), com os exemplos do seu mau uso, até a pretexto do trânsito, e a carência de exemplos positivos.
Mas, quanto a episódios de monstruosidade e seus revólveres: se um homicida como o de Realengo, em vez do revólver, matar com faca, alcançará igualmente o seu objetivo.
Não foi o revólver que atirou em Realengo. Não foram os dedos que o acionaram. Foi a cabeça do atirador. Nessas violências, antes de tudo está a cabeça. E por que ela agiu, no caso e nos demais de desatino semelhante? Por desconhecimento e inércia -o que não quer dizer culpa- de segundos e terceiros mais próximos, ou menos distantes, do rapaz arredio.
As poucas e breves narrativas que o retratam, na visão de parentes, expõem com toda a clareza um longo caso de transtorno mental necessitado de tratamento. As narrativas demonstram, na mesma medida, que não faltou a percepção desse estado por quem ouvia ou observava o rapaz: o fascínio pelo ataque às torres em Nova York, o desejo de destruir o Cristo Redentor, a reclusão voluntária, a alteração da própria figura -tudo muito indicativo e bem percebido.
Apesar disso, não houve iniciativa alguma. Apenas estranheza. Não há por que imaginar descaso, muito menos de to dos. A falta, tudo indica, foi de conhecimento do que fazer. De conhecimento da existência de serviços capazes do auxílio, até em um simples posto de saúde apto a dar orientação sobre o serviço a procurar. Sim, tais serviços são pouco numerosos; faltam-lhes mais verbas, mais pessoal, mais instalações. Existem, no entanto. E devem ser procurados para casos como o do rapaz de Realengo. Tão numerosos.
A providência que falta é a informação ao grande público sobre o que está ao seu alcance, quando estranhezas excessivas e injustificáveis impressionem. Não porque a persistência das condutas leve a desfechos horríveis. Mas o sofrimento do próprio transtornado já é bastante para uma iniciativa solidária.
Providência governamental já atrasada é uma campanha insistente de esclarecimento do grande público, sobre o que deve fazer diante de casos como o do rapaz de Realengo antes da explosão de seu distúrbio. Isso, sim, é uma das prevenções necessárias -para pacientes e para a sociedade.
Do contrário, nos casos que vão aos extremos, quando não forem revólveres, serão facas, serão barras de ferro, serão as mãos. E, nos outros casos, será o sofrimento reparável de tanta gente, dos pacientes às famílias e aos próximos.

Fonte:Folha de São Paulo - JANIO DE FREITAS

2 comentários:

  1. "...A falta, tudo indica, foi de conhecimento do que fazer. De conhecimento da existência de serviços capazes do auxílio, até em um simples posto de saúde apto a dar orientação sobre o serviço a procurar..." Ahhh como seria bom se isso fosse verdade. O dia em que o cidadão chegar um "simples posto de saúde" para solicitar auxílio pois seu familiar está demonstrando traços de algum transtorno qualquer, e este "postinho" conseguir ser resolutivo, eu aí passarei a acreditar no SUS. Sou enfermeira de um "simples posto de saúde" há 15 anos na maior cidade do estado de Santa Catarina, o Sul Maravilha e infelizmente digo que não é essa a realidade. A equipe de saúde mental composta por uma psicóloga e uma T. Ocupacional tem que dar conta de uma população de 33.000 habitantes. Psicólogos, eu pergunto, dá?

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  2. Humanamente impossivel atender a essa demanda, mas sabemos que se o governo quiser ele muda esse cenário...Só que os interesses deles vão além das simples necessidades desses pobres "loucos" como são tratados. Infelismente a nossa sociedade não está preparada para falar por essas pessoas, que na maioria das vezes acham que estão recebendo atendimento de favor e não sabem nem a quem recorrer, e os impostos que pagam, todos os meses? para onde vão? Para o auxilio moradia? palitó? verbas essas muitas vezes desviadas e mal empregadas....chega, não consigo nem terminar esse comentário, fico inojada com nosso País.

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